A paixão de Évora-Monte
Nestes últimos dias de Maio, ao passar nas Portas de Moura, olhando para o lado de cima, para o lado da Sé e do Paço Episcopal, ou olhando para o lado de baixo, para o lado do Senhor da Pobreza, lembra-me o coração os dias de agonia que aqui viveu há cento e setenta anos aquele que no dizer de Oliveira Martins foi "o último rei que o povo amou em Portugal". Foi a 26 de Maio que o General Lemos, após decisão do Conselho reunido no Paço, assinou em Évora-Monte a Convenção que os vencedores impunham; foi a 27 que o Sr. D. Miguel, das janelas do Paço, hoje Museu, deu a conhecer a todos o facto consumado, face à impossibilidade de continuar a combater; foi na madrugada de 30 de Maio que o Rei Proscrito desceu a Rua de São Manços e saiu pela Porta do Senhor da Pobreza, rumo a Portel, para atravessar o Alentejo, até Sines, por Ferreira e Alvalade, por entre ameaças de bandos de assassinos e ladrões. Foi em Sines que El-Rei partiu, para nunca mais. Recordo sempre com emoção o mais belo texto que alguma vez me foi dado ler sobre esses dias de 1834: a magnífica evocação que Hipólito Raposo publicou em "A Voz" no dia 26 de Maio de 1934, no centenário da Convenção. Aos meus amigos leitores: é obrigatório ler e reler "A paixão de Évora-Monte".
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