domingo, maio 30, 2004

Permanecer e criar

Na hora que passa pareceu-me oportuno transcrever um poema que Couto Viana em tempos dedicou a Rodrigo Emílio. É para ler sempre, mas sobretudo quando tudo nos dá vontade de fugir. Por mim reproduzo-o a pensar no Pedro e no Bruno, infatigáveis companheiros desta odisseia blogosférica.

PARA HOJE

É preciso ficar, aqui, entre os destroços,
E cinzelar a pedra e recompor a flor.
É preciso lançar no vazio dos ossos
A semente do amor.

É preciso ficar, aqui, entre os caídos,
E desmontar o medo e construir o pão.
É preciso expulsar dos cegos dias idos
A insónia da prisão.

É preciso ficar, aqui, entre os escombros,
E libertar a pomba e partilhar a luz.
É preciso arrastar, pausa a pausa, nos ombros,
A ascensão de uma cruz.

É preciso ficar, aqui, entre as ruínas,
E aferir a balança e tecer linho e lã.
É preciso o jardim a envolver oficinas:
É preciso amanhã.

ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA