Sequência de homenagem a João Conde Veiga
Da seiva dos pinheiros vem o sangue
Que nos salga o gesto de partir,
Dos olhos do gajeiro vê-se a linha
Que temos de descobrir.
(...)Com olhar longo e braço firme
Ilhas como casas iremos construir.
Vou entrar em combate, peço
ao céu que me torne merecedor
da morte, se vier. Se transformem
em tons de aurora os raios de sol-pôr.
Por cada gesto eu me torne digno
dos poucos anos que tenho por cumprir,
intensamente, Deus me realize
num gesto por esculpir.
Quando se morre jovem morre juventude
tem-se a idade dos confins de além
ganham-se estradas para além do tempo
que nunca se tem.
De novo regressamos à aventura
de descobrir em nós rumos antigos,
de novo a alvorada tem o ritmo
de cânticos guerreiros despertados.
Alerta, os olhos fitos na paisagem,
avançamos... Como o comando
fosse ditado pelo sangue dos avós.
Que força essa que nos faz partir?!
Que força essa vai dentro de nós?!
E como sempre vamos.
E como sempre iremos
nos longes oceanos
nos mares-meninos-medos,
nos ventos-tempestades.
Que monstros são arremedos,
E povos são vontades.
Não fugi da guerra, não fui para Paris
não fugi da terra, não traí o Povo,
eu fui ao combate debaixo do sol
e voltei de novo.
Posso aquecer-me com o sol mais quente
que me enche as veias, vinho de raiz,
não se vai à guerra e volta de novo
sem se sentir dentro a voz de um país.
E posso falar, falar compassado,
com o velho homem que me disse um dia:
- se eu tivesse agora a tua idade
era eu quem ia!
(de "Plenilúnio"; versos de João Conde Veiga)
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