sexta-feira, junho 18, 2004

Sexta-feira

Hoje não sei que vos diga. Bem sei que isto já é de obrigação, e que temos aqui encontro marcado. Mas há alturas assim, por mais que uma pessoa queira (e eu juro que queria) não encontra maneira de comunicar. Podia falar de mim, mas o tema angustia-me. A verdade é que não andamos de muito boas relações. Podia falar dos leitores - mas como já disse não conheço nenhum, e estou sem imaginação. Podia falar da nossa relação - mas suspeito que não há relação nenhuma, apenas um encontro virtual que se tornou rotina.
Falar de outros temas não adianta. Não há assunto. O país está todo a futebol e praia. Ainda há dias houve umas eleições europeias e já ninguém se lembra. O Dr. Ferro, que na noite dos resultados apareceu eufórico a dar-se ares de grande triunfador, já desceu à terra, puxado pela vil tristeza do agrupamento. O Manel - lembram-se do Manel? - desapareceu para parte incerta. Uma tristeza, esta desgraça que aconteceu ao Manel. Restam o Portas mais velho e o Louçã, mas esses falam tanto que me deixam sem fôlego. Lembram-me sempre aqueles prégadores americanos capazes de discursar torrencialmente e com o mesmo à vontade sobre os hábitos alimentares dos papuas ou sobre as dimensões dos preservativos entre os esquimós, tudo à luz dos preceitos evangélicos.
Enfim, não há mesmo assunto. Atravessamos aquela época angustiante que toda a gente das redacções teme e receia. É a silly season. Toda a atenção é pouca para não deixar escorregar o pé para a asneira.
Confesso aliás que estou um tanto irritado com os leitores. Afinal por que motivo hão-de ser estas as posições? Eu escrevo, e eles lêem... Bem podia ser ao contrário. Escrevam, que eu também gosto de ler. Estou eu aqui todos os dias a moer o juízo para encontrar inspiração, e ninguém me escreve a mim? Está mal. Fazem o favor de me escrever.