Comédia de enganos
Como me pareceu desde o início, o caso das "cassetes roubadas" vai evoluir rapidamente para uma daquelas situações em que todos os envolvidos proclamam solenemente que exigem o pronto esclarecimento de toda a verdade enquanto por seu lado fazem tudo para que esta não se descubra.
Agora surgiu a conveniente notícia da destruição dos originais das gravações em causa. Claro que o facto não é confirmado nem desmentido dos lados do "Correio da Manha", que continuará a ter em aberto para o futuro as duas hipóteses, conforme se mostrar no momento mais conveniente.
E evidentemente que na notícia sobre a destruição dos originais também não se diz quantas cópias terão sido antes efectuadas e guardadas em lugar seguro, para o que der e vier.
Entretanto, de acordo com os últimos dados com origem no "Correio da Manha", nunca houve propriamente furto dos suportes fonográficos: o que terá havido sim foi o furto das gravações, copiadas às escondidas durante as horas de expediente por alguém com acesso à redacção do "Correio da Manha", ou mesmo alguém da própria redacção, que aproveitou o facto de o seu autor as deixar numa gaveta da sua secretária...
O assunto entra assim no domínio do risível, da pura comédia. Desde a ideia de guardar descontraidamente material com tal poder explosivo num local de fácil acesso a um número indeterminado de pessoas (sem nenhuma copiazinha de segurança, Octávio?) até à delirante cena do gravador furtivo a aproveitar as ausências do ocupante da secretária para ir copiando as gravações (cinquenta horas!) tudo é classificável pelo menos de burlesco, algures entre Jerry Lewis e Mister Bean.
Recordo-me dos tempos em que visitei, algumas vezes, a redacção do "Correio da Manha"; era um sítio ligeiramente menos frequentado que uma estação do metro à hora de ponta...
Mas pronto, acabou, nós não podemos duvidar de gente tão afinada em deontologia: o que se passou foi que o Octávio de vez em quando ia à casa de banho, ou ia à rua tomar um cafezinho, e o ladrão pé ante pé aproveitava para subrepticiamente retirar uma cassete da gaveta (enorme gaveta!) e lá ia penosamente copiando dez minutos de cada vez, durante meses e meses, até conseguir a meta das cinquenta horas. E aquilo é uma redacção tão ocupada, tão ocupada que ninguém deu por nada.
Cá estaremos para ver os próximos episódios.
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