domingo, agosto 22, 2004

Pantanal

Um sintoma notório do estado de apodrecimento a que se chegou em matéria política na sociedade portuguesa actual é o facto de ninguém nos aparecer a ocupar o poder por um qualquer mérito ou qualidade própria. No sentimento geral, quem está continua a estar por ausência de alternativa, chegou até lá por exclusão de partes e assim se vai mantendo.
Como todos se lembram, Barroso e a sua equipa, em que nunca ninguém vislumbrou virtude de maior, conseguiram o poder e exerceram-no devido aos desastres sucessivos que diminuiram o PS. De facto, muito embora ninguém encontrasse nenhum motivo para ser apoiante de Barroso, ninguém era capaz de ver razão alguma para acreditar na inacreditável gente que o PS nos propunha. E deste modo, mesmo sem nenhuma crença em Barroso, o país lá o foi tolerando, encolhendo os ombros, graças à descrença total em qualquer outro.
A sorte do medíocre poder que tínhamos era a desgraçada oposição que lhe correspondia.
E como a possível alternância de poder em Portugal só pode fazer-se entre PSD e PS, a situação assim continuou.
Barroso fez o que quis, e o poder político transitou para o grupo em que são protagonistas Santana e Portas. O país não espera deles nada de bom, e entretanto vai-se divertindo com os seus pequenos e grandes ridículos. Mas daí a fazer alguma coisa para os tirar de lá vai um passo que ninguém está disposto a dar. Estes são o que são, mas os outros ainda parecem mais medíocres e insignificantes.
E desta forma, sem que ninguém saiba para quê, nem os próprios, o poder político vai-se mantendo, sem um projecto, uma ideia, uma linha de acção, uma imagem do futuro. Resignado ao facto, o país vai vivendo. É uma certa forma de estabilidade.
Esta situação a nível nacional repete-se depois indefinidamente a níveis intermédios, regionais e locais. Quem está está porque não há mais ninguém. Veja-se o incrível Jardim (neste momento o único rival de Fidel a nível mundial).
Mesmo perto de cada um de nós: aqui em Évora o poder municipal foi ocupado pelo PS, concretamente pelo Dr. José Ernesto e pela sua facção. Decorridos mais de dois anos, a opinião pública a respeito do seu exercício do poder é miserável. Não encontro opiniões favoráveis. O estado de apatia e desorganização, de ausência de rumo, de absoluto desgoverno, é patente na actividade da Câmara Municipal. Mesmo os assessores disso encarregados já sentem as maiores dificuldades em vir a público exprimir as posições que por obrigação devem exprimir, por óbvio receio do ridículo. No entanto, tudo ponderado, a continuidade do poder socialista, e da equipa de José Ernesto, depurada dos dissidentes (das..), parece-me seguro. Não há mais nada. Não se vê alternativa. Eles irão ficar por exclusão de partes.
Pensem os leitores quantas situações semelhantes conseguem inventariar.