Poderes públicos e máquinas partidárias
Por vezes a realidade ainda é pior do que pensam os menos optimistas. Basta olhar com atenção para a troca de palavras que passamos a reproduzir, entre dois proeminentes políticos da área governamental, para se ficar a saber como funciona o processo de decisão em matéria de investimentos públicos, e a sua dependência das máquinas partidárias, e dos interesses inconfessáveis com elas relacionados.
O Presidente da Câmara Municipal de Gaia, Luís Filipe Menezes ameaçou esta quarta-feira demitir-se da presidência, na eventualidade de se confirmar o adiamento do Programa Polis na cidade.
Esta reacção surge depois do "Diário Económico" ter dado conta da intenção do Governo no adiamento deste projecto em 13 cidades, no qual Gaia seria uma das mais afectadas pela redução de verbas.
Em declarações à TSF, o autarca considerou esta situação "uma gota de água de uma série de outros casos que têm discriminado a cidade", ameaçando por isso demitir-se.
Em reacção à reacção de Menezes, o líder do PSD Porto, Marco António, reconheceu que em muitos pontos o autarca Luís Filipe Menezes tem razão, mas defende que estas declarações não resolvem o problema.
"É óbvio que consigo vislumbrar motivos de queixa relativamente a várias questões. Mas as declarações que proferiu agravam a situação. Para resolver a situação deve recorrer a mim, como os outros autarcas fazem quando têm problemas", salientou o líder distrital.
Nem mais nem menos: para resolver a situação o presidente de Gaia deve recorrer a Sua Excelência, como fazem os demais. O que julgava ele? Que devia falar com os ministros responsáveis? Que devia vir para a comunicação social denunciar os problemas?
Não: devia era calar-se, e ir falar com o Marco António. Assuntos de família tratam-se em família.
O que me dizem os leitores? Se fosse alguém de fora do sistema a declarar que um presidente de câmara para tratar de problemas relativos aos programas governamentais para o seu Concelho deve dirigir-se ao Presidente Distrital do partido governamental, a afirmação seria considerada como uma torpe calúnia, e de pronto desmentida pelos próprios.
Mas são eles que o dizem!...
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