Eleições na Vendinha: qual o valor do teste?
Constato com alguma estranheza que o resultado das eleições intercalares do passado domingo na Freguesia de São Vicente do Pigeiro/Vendinha não provocaram até ao momento qualquer comentário na blogosfera eborense.
A estranheza explica-se pela atenção dada ao confronto que se adivinha nas eleições para a Câmara de Évora, que bem se percebe estar nos seus desenvolvimentos iniciais - mas com a corrida já lançada - e que, este sim, tem tido merecido relevo.
Ora as referidas eleições intercalares, a esta distância das últimas e já à vista das próximas, não podem deixar de ter valor de teste, a justificar análise mais aprofundada (que estou em crer estará a ser feita, mas pelos vistos mais ou menos à porta fechada).
Algumas vozes estarão nesta altura com a sentença já definida: estes resultados têm um significado meramente local, têm explicações circunstanciais e acidentais, a amostra é pequena, numa palavra não é legítimo tirar conclusões com pretensões de generalização, não se pode extrapolar nada.
Admito que efectivamente existam motivações de ordem meramente local, e personalizadas. Mas não é possível iludir a realidade e apagá-la num passe de mágica. A verdade é que o PCP entre as últimas autárquicas e estas intercalares perdeu mais de metade do seu eleitorado. Numa freguesia rural onde nunca tinha perdido. É uma derrota dura e pesada, ao fim de 30 anos de vitórias por maioria absoluta.
A existência de problemas com duas pessoas que compunham a última Junta (prevaricações que o PCP aliás condenou, demarcando-se e retirando confiança política a tais pessoas, e apresentando outros candidatos de sua escolha) não chega para explicar a debandada do eleitorado.
A característica fidelização do eleitorado comunista teria funcionado perfeitamente até há não muito tempo: sendo A ou B o candidato, ou sendo a mula da cooperativa, o eleitor típico do partido nunca hesitaria em votar no que o partido indicasse.
As tais perturbações não teriam efeitos de maior, para alem do afastamento das tais duas pessoas.
Todavia, o que temos é um naufrágio sem precedentes. Mesmo que em parte se deva às razões a que o PCP gostaria de atribuir o todo, não me parece que tais razões possam explicar senão uma parte.
E quais as explicações de ordem mais geral que então se nos apresentam?
Pode bem ser o que o PCP não quer admitir: a quebra dos laços entre o partidão e seu eleitorado cativo. O desmoronar da base rural do PCP alentejano. Neste lapso de tempo desde a perda da Câmara os mecanismos conjugados do envelhecimento e do cansaço, e do funcionamento dos sistemas de aliciamento conhecidos de todos no poder autárquico, teriam alcançado este efeito de erosão na base eleitoral comunista. O Dr. Ernesto seria finalmente não apenas o sucessor mas o verdadeiro herdeiro do Dr. Abílio (embora não no partido). Um fenómeno concretizado silenciosamente, desapercebido aos nossos olhos de citadinos letrados entretidos a falar uns para os outros nos areópagos limitados em que julgamos traduzir a opinião pública.
Se assim for, o resultado pode servir para prever o comportamento de uma franja sigificativa dos eleitores das nossas freguesias rurais. E nesse caso, ocorrendo nelas essa sangria que se verificou em São Vicente do Pigeiro, o PCP nas eleições autárquicas que se façam no Concelho de Évora não só não ganhará nada como irá perder tudo o que tem. Para satisfação e proveito do Dr. Ernesto.
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