O "Futebol"
Não sei se os leitores já repararam que em geral quando o tema anunciado é futebol muito raramente se fala de futebol. Quem tenha a paciência de observar as nossas televisões facilmente encontrará programas de uma hora em que só três ou quatro minutos são dedicados ao jogo, ou ao que se passou num jogo concreto. O tempo todo é gasto em exaltadas discussões sobre as arbitragens, os negócios da Liga, os dirigentes, as transferências, os empresários, os direitos das transmissões, os pagamentos ao fisco, a segurança nas bancadas, a publicidade nas camisolas ou nos estádios, o poder dos empresários, as claques, as eleições nos clubes, os milhões em disputa, até a vida familiar ou amorosa de alguns futebolistas - de futebol é que não se fala.
Em parte a minha aversão a essa temática deve-se a esta transformação, que tornou o jogo um mero pretexto, um aspecto secundário e esquecido de um fenómeno social que tem tanto de alienação coleciva como de gigantesca indústria de diversão, que mistura aspectos anacrónicos típicos de certa marginalidade em ascensão, à procura de influência e consideração social, com utilização de grandes meios de mobilização de massas, próprios da nossa era tecnologicamente sofisticada, caracterizada pela manipulação de instintos gregários e necessidades de afiliação em escala nunca antes vista.
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