Política caseira
Há poucos dias passou despercebido um comunicado da estrutura dirigente do PSD do Porto em que a cúpula respectiva se dedicou a criticar Pacheco Pereira e Marcelo Rebelo de Sousa pela intervenção política que estes exercem através da sua actividade de comentadores.
A pouca atenção dada a esta posição pública parece-me explicável apenas pela progressiva "futebolização" da política: cada vez é mais notória a tendência para sob a invocação da política se falar de toda a espécie de assuntos que podem remotamente relacionar-se com esta ou com algum dos seus protagonistas (até de santanettes!), sem que dela propriamente se fale. Pelo menos daquilo que nela realmente importa.
Ora a verdade é que a atitude do PSD do Porto afigura-se-me cheio de significado: a análise subjacente a todo o raciocínio (e nem se justifica dizer que está implícita porque me surge bem explicitada) dá por assente que a oposição relevante, com que o governo deve contar, é aquela que nasce desses e de outros, situados dentro dos meios afectos à maioria.
A convicção que ali está bem clara é que a estabilidade governativa só poderá ser ameaçada de dentro, e não pela oposição oficial, assim de barato tida como inofensiva.
A análise não é propriamente uma novidade absoluta; e valha a verdade que nestes dias ao ouvir Sócrates, Soares ou Alegre muita gente terá reforçado essa impressão.
Mas, ainda assim, observar como se espalha com cada vez maior naturalidade uma tese destas parece-me humilhante demais para o Partido Socialista.
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