O valor da internet
Está a vir ao de cima, pelo que sei ao menos em França, em Espanha e em Portugal, uma discussão aflita sobre a crise da imprensa e a internet, que se reflecte em campanhas várias.
Os jornais de papel queixam-se de um mercado cada dia mais reduzido pela concorrência dos gratuitos e dos digitais.
E se esses se lamentam do decréscimo das tiragens, todos, escritos ou audiovisuais, choram a fuga da publicidade, a cada hora mais escassa e disputada.
Mas se bem olharmos verificamos que as preocupações não se limitam à questão financeira, à luta pela sobrevivência económica.
Se bem repararmos vimos que o que lhes dói, mais do que a fuga de receitas publicitárias provocada pela imprensa digital, é a perda do monopólio da fabricação da realidade.
As queixas mais doloridas vão para “os perigos da Internet”, a falta de controle do que aqui se passa, a necessidade de regulamentação do meio.
Facilmente se percebe a mensagem.
Um dos pilares das nossas sociedades ocidentais é o domínio da cultura e da opinião pública. Como teorizava o ideólogo comunista António Gramsci, os intelectuais é que podem mudar as mentalidades; e com muito mais eficácia do que as escolas, que se encarregavam disso no século XIX, quem tem agora essa função são os media.
Agora as escolas criam analfabetos, e os meios de comunicação dão-lhes as palavras de ordem com que se orientam, ensinam-lhes o que pensar, em quem votar ou o que aplaudir.
A imprensa, a comunicação, não é apenas um negócio que vende noticias, mas também ideias, opiniões, ideologia.
Como já se provou, a imprensa pode vencer exércitos, pode ganhar eleições, e os golpes de Estado dão-se antes de tudo na televisão, na rádio, nos periódicos.
E aqui está a verdadeira razão do pânico: o meio digital parece ser incontrolável.
Os donos do jogo, que há muitos anos impõem as suas consignas e estabelecem um reino de terror, com um rigoroso patrulhamento ideológico e a denúncia paralisante dos que se afastam da linha justa definida pela cartilha, sentem o terreno a fugir-lhes debaixo dos pés.
Como se alcança com nitidez também em Portugal.
De onde decorre também o alto apreço em que devemos ter, cada dia mais e mais, a internet.
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