sexta-feira, outubro 15, 2004

Parabéns, Agustina!

Agustina Bessa Luís completou hoje 82 anos.
Passaram agora 50 anos sobre a publicação de “A Sibila”, a obra que a afirmou definitivamente no universo literário português.
Creio bem que são razões de sobra para a recordar, ao menos aqui na blogosfera que é terreno livre dos condicionamentos que dominam as coutadas. A isso venho.
Não serei eu a falar sobre a literatura de Agustina, que me faltam asas para tais voos. Limito-me a realçar que estamos perante um caso literário único, sem qualquer paralelo no nosso panorama cultural. Uma escritora singular, impossível de identificar com algum grupo, corrente, revista, seita ou capelinha ergueu uma obra ímpar, vastíssima, com a paciência e a serenidade de uma mãe de família que, com bonomia, faz renda ao serão, ao canto da lareira. Com modéstia e simplicidade, mas com persistência tenaz.
São mais de cinco décadas de actividade literária, em que lenta mas firmemente se foi impondo ao respeito de todos e calando as vozes despeitadas dos que viam com inveja uma estranha a vencer onde eles falhavam. E venceu, sem máquinas publicitárias, sem editoras multinacionais, sem crítica arregimentada. Venceu e convenceu junto de um público leitor constante e fiel, sem claques organizadas nem glória prefabricada.
Longe vão os tempos da má língua das tertúlias literateiras da capital e das alusões sobranceiras à “bruxa da Areosa”. Calaram-se: ela calou-os. Sem que precisasse sequer de dizer nada; por ela falaram sempre os seus romances, que por aí foram conquistando tudo o que havia para conquistar.
Por tudo o que nos deu, queria dizer-lhe daqui o meu sincero - obrigado, Agustina!