A RTP e a memória
Ainda não vi comentar o acontecimento, mas a RTP lançou há poucos dias um novo canal a que chamou RTP Memória.
Não sendo grande consumidor de televisão (na verdade vejo pouco e cada vez menos) a notícia chamou-me a atenção, e criou-me alguma expectativa. Com efeito, a ideia de aproveitar o extraordinário arquivo da RTP, única estação em Portugal durante décadas, e mostrar ao público de hoje tantas preciosidades a que este evidentemente nunca teve acesso, nem o terá se não lhe for facultado em programação do género (do género da que eu esperava, claro), apareceu-me como uma boa ideia, uma ideia a saudar e a agradecer.
Perdi por isso algum tempo, à noite, a espreitar o novo canal. Ingenuidade a minha! Aquilo é mais outro condomínio, destinado a promover os amigos. Nem vou comentar em pormenor o que por lá aparece (sobretudo, os que por lá aparecem). Digo-vos só que é confrangedor. Uma vergonha. Com umas coisinhas menores para disfarçar, o que ali está é mais um palco para promoção de umas tantas vaidades que andam nisto há trinta anos, são sempre os mesmos, conhecem-se todos, já estiveram juntos em não sei quantos lados, giram e trocam de par como nas voltas do vira, mas nunca desaparecem, as mesmas carantonhas que o público enjoa só de ver ao longe.
É operação de reciclagem e recauchutagem.
A RTP não terá falta de memória (o arquivo é gigantesco) mas que tem uma memória muito selectiva, isso garanto eu.
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