A estupidez é invencível
A estupidez é um monstro cabeçudo e agressivo. Na disforme cabeçorra, inteiramente protegida do exterior por negra e pétrea carapaça, nada entra que não caiba nos estreitos canais por onde o bicho recebe do exterior a pouca luz e o escasso oxigénio que lhe mantêm vivo o rudimentar amontoado de células cinzentas que lhe comanda os movimentos.
Digo movimentos, não pensamentos; na verdade o animal não atinge aquele grau de sofisticação em que se passa a dizer que existe pensamento pensante, e antes permanece ao nível das reacções e impulsos primários, ao sabor do exterior.
Tem no entanto o sentimento interior da sua inferioridade; e dói-lhe, e sente vergonha, humilhação, perante tudo o que o transcende e ultrapassa. E então reage à humilhação, insurgindo-se e investindo contra o que sente superior, ainda que o não entenda; é o modo instintivo de combater a sensação incómoda da sua própria incapacidade.
Causa estragos terríveis, a fúria da criatura. Como se percebe do que ficou dito, o objecto da sua revolta não é senão o que o ultrapassa. Ataca e destrói por ódio puro, e sempre aquilo cujo valor inveja.
E o pior é que o monstro é invencível. Podemos sobreviver-lhe, mas vencê-lo não.
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