ANTÓNIO SARDINHA — DOUTRINADOR DE DOUTRINADORES
Triste efeméride, a que vou recordar: — trata-se da morte de António Sardinha ocorrida no dia 10 de Janeiro de 1925, data sobre a qual são passados cinquenta e seis longos anos, num século caracterizado pela revolução permanente. Falecido na cidade de Elvas, próximo da Vila de Monforte onde nascera ao findar o século XIX, António Sardinha, alentejano até à medula, quis permanecer no Alentejo e morrer no Alentejo, legando à sua terra natal os restos mortais dum Português de lei, cuja memória veneramos neste ano de 1981.
«No Alentejo de Nun`Álvares e Beatriz da Silva, de António Sardinha e Pequito Rebelo, na grande província do misticismo rural, por onde passam e revoam a disciplina das Ordens monástico-militares e a força criadora dos lavradores e dos camponeses, fica desde agora a repousar o corpo do Rei da minha mocidade, sinal visível e oculto da vocação portuguesa. Do Aquém para o Além».
Assim se expressou o Dr. Henrique Barrilaro Ruas, nas páginas de "O Dia", quando em 29/12/1976 publicava um trabalho de que destaquei este parágrafo. O Autor recordava-nos o Senhor Duque de Bragança, após a morte de Sua Alteza, recentemente ocorrida, e encimava a sua habitual coluna (de então) com o título: «Dom Duarte Nuno».
No Alentejo onde vivo, naquele Alentejo que a Revolução de Abril escolheu como vítima — ou, mais do que isso, como mártir — dos seus loucos desígnios, é ainda «a força criadora dos lavradores e dos camponeses» que me dá alento e alguma inspiração para evocar as grandes figuras duma história ímpar que se chama: História de Portugal.
Pelo interesse que me suscitou na altura, e porque ainda hoje se revela como excelente introdução ao tema que me proponho desenvolver, aqui fica arquivado não só o referido parágrafo do Dr. Barrilaro Ruas mas também a minha homenagem a todos os Portugueses — mortos e vivos — que muito honraram o Alentejo e dos quais destacarei Santa Beatriz da Silva, recentemente canonizada, e o digno descendente dos Reis de Portugal, Senhor Dom Duarte Nuno de Bragança. D. Nuno Álvares Pereira é uma figura nacional que alia, no seu misticismo, a alma do herói e o espírito do religioso nato — António Sardinha e Pequito Rebelo ocupam no meu coração o lugar que reservo aos grandes de Portugal.
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O Dr. Rodrigues Cavalheiro traçou-nos, com a sua incontestada autoridade, «o perfil de António Sardinha», em tantas páginas das suas obras evocativas do grande doutrinador, mas não posso esquecer uma Conferência proferida no Centro de Cultura Popular, no dia 10 de Janeiro de 1974, quando começava a ouvir-se (ao longe...) o dobre de finados da Nação Portuguesa, tal como era então constituída.
Nesse dia do fatídico ano de 1974 um dos mais destacados seguidores de António Sardinha na obra portentosa de dignificar a Cultura portuguesa sentiu como dever pincelar-nos o termo glorioso dessa vida, plena de vida, quando expirava, em Elvas e na sua Quinta do Bispo, «naquela noite frigidíssima de Janeiro de 1925», o Poeta de "A Epopeia da Planície", o criador de algo que sintetiza, neste século de decadência, os nobres princípios do mais puro Nacionalismo sob a fórmula dum perfeito entendimento entre a Nação que somos e o Rei que a soubesse amar em toda a plenitude. E depois?
Depois — sigo ainda o Dr. Rodrigues Carvalheiro — «foi o trágico e imponente cortejo, com os sinos de todos os povoados a badalar o seu funéreo adeus, ao longo de trinta quilómetros como jamais havia visto aquela planura heróica que ele soubera cantar como ninguém; a lenta jornada para Monforte, onde se chegou ao anoitecer, numa procissão de sabor medieval — como Afonso Lopes Vieira a definiu — por entre a boa gente alentejana, após um dia «inundado de um sol radioso» — recorda Pedro Theotónio Pereira — já quando a nascença do trigo novo começava a reverdecer a terra ».
Depois «um grande senhor rural e uma das derradeiras encarnações das autoridades sociais de outros séculos», homem que «pela inteligência, pelo exemplo e pela bondade», se tornara, muito mais do que alentejano, figura nacional; o integralista, «que havia sido mestre sempre escutado e chefe por direito natural», recolheu à sua origem, à nascente donde brotara o génio iluminado e a inteligência fulgurante do intelectual que tornou famosa a vila de Monforte no seu querido Alentejo. Depois «a espantosa entrada no cemitoriozinho da sua terra natal no regresso ao berço donde proviera» foi como que a síntese de uma vida que se repartiu por Portugal e (quantas vezes) pelo exílio, mas que acabou por unir Elvas a Monforte num amplexo de ternura popular e num sentido pungente de dor que só a morte sabe e pode provocar.
Em suma: «tudo acabara — mas tudo ia, no entanto, recomeçar». São ainda as palavras do Dr. Rodrigues Cavalheiro as que acabei de transcrever: elas sintetizam o pensamento de quem as pronunciou; exprimem as faculdades que o Mestre sabia inculcar nos seus discípulos e companheiros de jornada. É que — ao contrário do que imaginam os coriféus da desnacionalização a todo o preço — para um integralista o combate, o Bom Combate nunca acaba! E, acabando, teria que recomeçar, necessariamente...
Eis a razão porque — passado mais de meio século sobre «uma das mais sombrias datas da nossa história contemporânea» (frase atribuída a Maurras, relativamente à morte de Barrès e citada pelo conferente do Centro de Cultura Popular, de que agora me sirvo para atestar um dia fúnebre da nossa história), nesse mesmo Alentejo onde o clima mediterrâneo, na sua característica amplitude térmica, consegue em Janeiro (em pleno Janeiro de 1925, como no Janeiro de 1981) conciliar uma «noite frigidíssima» com «um dia inundado de um sol radioso» — a esperança de redenção, que não é apenas derivada da «força criadora dos lavradores e dos camponeses», mas «sinal visível e oculto da vocação portuguesa», leva-me à evocação de António Sardinha, cujas cinzas repousam na Província Portuguesa onde, também, ficou, «a repousar o corpo do Rei» que o Dr. Henrique Barrilaro Ruas considera como «o Rei» da sua «mocidade».
A Monarquia Portuguesa, ferida de morte em 1820 e sucumbindo na Rotunda às mãos da Carbonária, em 5 de Outubro de 1910, teve no Integralismo Lusitano — e em António Sardinha, o Mestre dessa plêiade brilhante de intelectuais que no nosso século revigoraram o Pensamento à luz do mais sadio Tradicionalismo — uma razão histórica para se poder afirmar como a única alternativa institucional perante o jogo macabro das várias repúblicas a digladiarem-se ferozmente!
Deve-se ao Integralismo Lusitano o estudo histórico de todas as nossas potencialidades feito sob directrizes intensamente patrióticas, à luz de uma doutrina que vem dos séculos e que pelos séculos fora se há-de consumar! As colunas de "A Monarquia", as páginas da "Nação Portuguesa" são o testemunho fiel de que penetrámos novamente na profundidade da História quando reconciliámos a origem secular da Monarquia Portuguesa com o Espírito da Igreja Católica Apostólica Romana, que àquela passou a certidão de nascimento. E que não só lhe assistiu ao nascer, como depois a amparou pelos séculos fora: — os Soberanos da Casa Real bem compreenderam que Portugal só era Portugal porque fora sempre cristão e católico, tradicionalista. Em suma, monárquico... Quando deixou de o ser afundou-se em contradições dogmáticas filhas de ideias alheias à sua vivência nacional...
Estudar o Movimento Integralista, seguir atentamente a evolução do pensamento de António Sardinha significa estarmos de acordo com o Passado naquilo em que ele nos pode servir de lição para o Futuro; significa ainda respeitarmos o Presente enquanto este souber constituir a ponte de passagem das gerações que passaram para as gerações vindouras. Compreender António Sardinha na sua luta de gigante contra a Democracia Liberal e a Maçonaria — que soube adoptar toda essa proliferação de repúblicas para impedir os povos de irem ao encontro da História buscar razões para melhor se entenderem entre si ou internamente, tanto no respeito das suas instituições tradicionais como na procura de formas de governo consentâneas com a estabilidade que, acima de tudo, deve aceitar o primado da Igreja — será igual a ter compreensão por esse Portugal (nobre mas decadente) que nos legaram, e nós nem sequer mantivemos na sua unidade secular.
Hoje, como ontem, é ainda possível a ressurreição — hoje, como ontem, porém, só se afirmam as nações que, próximas da sua tonalidade histórica, saibam compreendê-la e respeitá-la. Ora essa não é, decerto, a situação (revolucionária) do presente? É caso para pensarmos que, continuando o estádio de negação que se prolonga desde 74, não temos bases sólidas para reconstruir a nossa Pátria.
Num século profundamente internacionalista como o nosso, em que o universalismo católico foi soberanamente negado pelos arautos dum certo tipo de mundialismo maçónico apoiado no capitalismo liberal e seu filho dilecto, o comunismo marxista, não temos que reprovar a atitude de homens que foram autênticos heróis no começo dessa escalada contra a Civilização, que havia de prosseguir ou desenvolver-se ao longo de muitas décadas e sob imensos disfarces.
Foi o Integralismo Lusitano que desencadeou em Portugal o movimento renovador da Cultura; que produziu uma doutrina sempre actual, quando a saibamos estudar profundamente, ou adaptá-la de modo que o pensamento integralista siga as coordenadas históricas e enfrente os mais ingentes problemas sem abdicar da raiz que mantém o Estado apoiado na Pátria e esta expressa na Nação. Que é o cimento espalhado pelo Mundo a constituir argamassa de um Povo, por excelência, civilizado e civilizador!
António Sardinha, Escritor, Poeta e grande doutrinador é, para além de tudo, o pensador profundo da Lusitanidade e do Tradicionalismo, sabendo conjugá-los de forma que o ensaísta e o historiógrafo dêem por vezes lugar ao genialismo do polemista que revolucionou os métodos de crítica das ideias, ao ponto de ser considerado como «revolucionário da Contra-Revolução". A sua mentalidade renovadora e o seu espantoso poder criativo levaram o homem de acção a tomar atitudes que nunca o pensador se envergonhou de subscrever...
Legou-nos uma obra imensa pelo número das suas produções, especialmente pelo valor intrínseco dessa obra: dispersa por tantos volumes, e muitos deles só publicados a título póstumo já que a sua vida foi ceifada quando, em pleno vigor intelectual, traçava as linhas do combate por um Portugal monárquico e católico.
Figura controversa duma época em que a decadência dos costumes e a corrupção dos povos assentaram arraiais terá sido um exemplo moral para a sua geração e para as gerações vindouras. O Dr. Rodrigues Cavalheiro, na célebre conferência do Centro de Cultura Popular, chamava ao seu «apostolado contra-revolucionário» o melhor meio de manter permanente a doutrina integralista perfilhada ou renovada «por um escol magnífico de velhos admiradores e de jovens discípulos a que poderemos chamar póstumos» do Mestre, cujo «ideário» persiste «em imprimir directrizes à marcha do nosso tempo».
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Alguns dos críticos do Integralismo não pensam, porém, que valha a pena cultivar a doutrina que serviu de base ao Movimento fecundo e vivificante que sustentou algumas décadas do século. É o caso por exemplo do articulista que, sob as iniciais E. V., publicou, no semanário "O País", uma ferroadas no Integralismo, considerando-o: «guarda-avançada, em Portugal, de certos e nocivos movimentos nacionalistas». Com o título, «Monárquicos no Governo da República», o referido articulista chega a esta conclusão: «os resquícios que, eventualmente, possa ter deixado como filosofia política estão de há muito ultrapassados e nem sequer podem considerar-se significativos».
Esta forma de análise sobre os pretensos resultados do Integralismo representa um estado de espírito muito propício à aceitação daquilo que na realidade o Integralismo sempre combateu — ou seja o «monarquismo sem monárquicos»! Como análise política (na sua profundidade...) chega ao impasse: — termina com um parágrafo que é (todo ele) a prova mais do que provada que os monárquicos, para serem verdadeiramente monárquicos, deveriam repudiar o Integralismo alinhando pelas hostes republicanas! Vejamos:
«Como quer que seja, os monárquicos dispõem-se a servir o País e, consequentemente, a república que nele se instalou há 70 anos. Só é de esperar que o façam com a honestidade de Canto e Castro cujo exemplo poderão seguir, sem se lembrarem de Paiva Couceiro. São os votos que formulamos neste começo de 1981».
Ora se o senhor E. V. formula esses votos não temos que o contestar — desejamos-lhe as maiores felicidades republicanas, ideário de Paiva Couceiro... Simplesmente há que recordar a E. V. que o Integralismo é uma «Doutrina Viva» e, como escreveu o prof. Jacinto Ferreira, no seu livro "No Debate das Ideias", é muito certo pensarmos antes desta forma:
«Para nós, monárquicos, que não cultivamos a demagogia nem a arte de iludir as massas, a doutrinação assume um papel primacial, pois entendemos que é da adesão das consciências, mais do que das inclinações sentimentais, que resultará a profunda transformação política que preconizamos e consideramos indispensável para bem de Portugal e dos portugueses».
Pese embora aos monárquicos republicanos, ou aos súbditos da República que vêem na Monarquia o perigo a esconjurar, há uma doutrina que perdura e que deve ao Integralismo Lusitano a sua expansão. O prof. Jacinto Ferreira, no seu trabalho citado, afirma: «a doutrina nunca poderá ser, porém, imutável e intolerável nas suas disposições e concepções» porque, «como coisa viva que é, está sujeita a toda a evolução e adaptação». Isto pensa também um discípulo póstumo de António Sardinha, que respeita integralmente as linhas de continuidade intelectual da Doutrina e que busca na prática a aplicação de princípios que eram ontem, e ainda são hoje, razão de perenidade pátria num exemplo de combatividade nacionalista que nada pede emprestado às repúblicas, e nada lhes fica a dever no combate que desenvolve.
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A luta política cega muitas vezes o espírito dos homens! E nem sempre permanece neles aquela isenção crítica que levou, por exemplo, um Gilberto Freyre a escrever, na sua obra "Aventura e Rotina", em relação a António Sardinha, palavras que vale a pena registar neste pequeno apontamento, quando visitava a sua Viúva, na Quinta do Bispo, da cidade de Elvas, e afirmava:
«Diante da sua mesa de trabalho, vem-me à lembrança a amizade que me ligou a este português de Elvas que não cheguei a conhecer senão através de cartas». E o homem do mundo, Gilberto Freyre, diz ainda, em referência a António Sardinha: «nele aconteceu o transbordamento em homem de letras de uma personalidade marcada pelo fervor combativo ou pela maneira pessoal de reagir contra convenções a seu ver desnacionalizantes ou desispanizantes do português; e a favor de tradições, no seu entender, essenciais à conservação do espírito nacional e do espírito hispânico, na gente portuguesa».
Esta forma de criticar o pensamento de Mestre António Sardinha, partindo da opinião de alguém que sempre se situou num quadrante de ideias nada confluentes com o Nacionalismo Integralista, é concludentemente a apreciação de um grande espírito sobre outro grande espírito. E significa que, melhor do que os nossos anti-integralistas e muitos puritanos do moderno patriotismo, compreendeu quanto representava de nacionalista o pensamento de António Sardinha no seu ideal hispânico.
Em "Aliança Peninsular" — obra tão controversa que, desde a sua publicação aos nossos dias, levantou sobre António Sardinha suspeitas de iberismo (o que é, precisamente, um oposto de hispanidade no sentido em que António Sardinha a considera), ao ponto de levantar polémicas e reacender querelas extintas — o seu autor, discernindo sobre a Igreja Católica e as origens políticas dos primeiros reinos peninsulares, para marcar o que considera como os primórdios civilizadores desses povos bem adiantados sobre os restantes que então se formavam na Europa, diz-nos: «precisamente da influência da Igreja sobre as direcções sociais do império gótico de Toledo deriva o seu grau de adiantada humanidade que dotou a Península com institutos e costumes só mais tarde, e por custoso esforço da civilização, estendidos aos demais países europeus».
Também na sua obra "À Lareira de Castela" António Sardinha pensava o Pan-Hispanismo como fenómeno de ligação entre a Espanha e Portugal, mas entendido num sentido diferente daquele que a política corrente considera a unidade dos povos peninsulares, e que o próprio Iberismo — fenómeno anarco-republicano e liberal-maçónico que é, ao contrário, a fragmentação da Península, já que aponta para o desmembramento da Espanha na antinomia da sua própria unidade, procurando construir uma realidade que, como o exemplo actual nos demonstra, faz com que o Reino vizinho se debata em violentos espasmos da sua consciência nacional — chega a preconizar pela violência ou pela adulação! António Sardinha cita mesmo o General Rodriguez de Quijano para deduzir do seu pensamento este pequeno período que realça: «na opinião geral só Espanha e Portugal pelos seus precedentes e índole especial de raça, podem chegar a ser o verdadeiro laço de união entre a Europa, a América e a África...»
Não estará neste pequeno naco de prosa de um espanhol, a quem o grande português cita (e que eu transcrevo), o exemplo característico de como cada um por si — Portugal e Espanha — servem à Europa de traço de união com a América e a África? Parece-me que neste momento até os terceiro-mundistas perfilhariam este pensamento... Se bem que a sua intenção seja outra, diferente e contrária: eles pretendem que a Península Ibérica faça a ponte, sim, mas entre o imperialismo continental Euro-Asiático (comunismo soviético) e os outros continentes por meio de uma aproximação ideológica em que Portugal e/ou Espanha sirvam de intermediários!
Ora Luís de Almeida Braga, quando escrevia (em "Posição de António Sardinha") o que passo a transcrever, lia muito bem fundo no seu espírito, citando-o: «abriu falência, no seu opressivo artificialismo, o Estado moderno. Autoridade, continuidade e uniformidade nos órgãos governativos e representativos, — eis a fórmula que se nos oferece para restaurarmos o equilíbrio perdido da sociedade. É assim restituí-la à sua estrutura medieval pela aliança proporcionada da unidade com a variedade, — da concentração com a descentralização». Para rematar deste modo: «Se Portugal quiser ser Portugal, é o caminho porque terá francamente de se decidir».
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Num trabalho desta natureza parece-me estar suficientemente desenvolvido (ou resumido?) o que se possa entender por Integralismo Lusitano e, através do insignificante labor de quem dá o melhor do seu esforço ao estudo do fenómeno integralista, esboçado, ainda que de modo muito sucinto, o pensamento de António Sardinha no início e direcção do movimento político e cultural que havia se levantar polémicas entre os portugueses ao longo de todo este século.
Como António Sardinha eu entendo que vale a pena meditar, estudando com fé para realizar convictamente uma obra que perdure. O seu grande amigo Luís de Almeida Braga, em "Espada ao Sol", diria de António Sardinha: «(...) ler, meditar e escrever eram para ele, nesse tempo, acções augustas. A sua curiosidade intelectual não tinha fronteiras. Sugava os livros como as abelhas chupam as flores. Contudo, tantas e tão variadas leituras não lhe secaram o pensamento nem o apartaram da vida. Era já vigorosa a sua personalidade para que pudesse corrompê-la o delicioso veneno dos livros. O seu coração ficou ardente como era, intacta a sua riquíssima sensibilidade. Eu o posso agora testemunhar, porque assisti às primeiras manifestações do seu espírito, sem que jamais nos separássemos».
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Lavrador e camponês — filho, neto e bisneto de lavradores e camponeses — não tenho, pelo lado materno ou paterno, outro vínculo que ligue à Terra e à Pátria que não seja o sentimento puro de que brota a minha tradição natural e secular resultante dessa ligação. Sem o mais ligeiro sentido de inferioridade, provinda do facto de ser provinciano e rural, curvo-me humilde e reverenciosamente ante a cultura e o exemplo do maior doutrinador de doutrinadores nascido no meu (e seu) meio e na terra alentejana de Monforte, no ano de 1888, para falecer com 36 anos quase sobre a fronteira das duas nações que mais amou e que são: Portugal e Espanha.
Ao sentir, nesta hora crítica da História, um mundo a despedaçar-se em convulsões subversivas sob os mais horríveis golpes terroristas e um país a retalhar-se por força do conluio dos mais absorventes internacionalismos, eu peço à humilde do rural para que proclame, em nome do Alentejo comum que nos serviu de berço, a minha sentida e comovida homenagem a um dos mais fiéis integralistas que, durante décadas e décadas, por um esforço hercúleo de inteligência e persistência, criou em todos nós, monárquicos e integralistas, o dever de o considerarmos como a incarnação viva de António Sardinha: — refiro-me a Mestre Pequito Rebelo.
Como António Sardinha, o Dr. José Adriano Pequito Rebelo é um «grande senhor rural» na verdadeira acepção da palavra. Eu comungarei com o pensamento do Dr. Pequito Rebelo, definindo deste modo o integralista:
«É um português perfeito, é um integralista aquele que, tendo o cérebro limpo dos preconceitos revolucionários e o coração cheio destes ideais, se votou, com espírito de sacrificar a própria vida, à restauração da Monarquia pura». (Extraído da sua obra-prima, "Pela Dedução à Monarquia").
Não admito de outro modo o monárquico. Só assim entendo o Integralismo.
Para terminar, recordo António Sardinha e o seu Poema "Deus na Planície", quando sonhava:
«É noite. Aqui não há mar, nem serra. Há o Infinito, o vago».
Eis o Alentejo: «de Nun`Álvares e Beatriz da Silva, de António Sardinha e Pequito Rebelo».
Diogo Barradas Curvo
(in «Resistência», n.º 1, vol. 2, 3.ª série, Janeiro/Fevereiro/Março de 1981, págs. 5-14).
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