Natal, hoje
Do ventre de amargura e solidão
Nasce, esta noite, uma criança.
Chama-lhe esperança
O coração.
Quem restará para adorá-la de joelhos?
Emigram os pastores que sabem ler no céu.
Coroados no exílio, onde vão os três velhos?
Entregar oiro e o mais ao banqueiro judeu.
A estrela anunciadora
Lança, em vão, o seu místico sinal.
Confundem-na, talvez, no progresso da hora,
Com um satélite artificial.
Puro coral dos anjos, destruído
Pela bárbara estridência da boîte,
Não chega a nenhum ouvido
Como um hino de amor e um toque a rebate.
E o desejo mais alto - Paz na terra!-
Tomba como uma flor emurchecida
Na eterna guerra
Em que se esvai a vida.
Do ventre de amargura e solidão
Nasce, esta noite, uma criança.
O coração chama-lhe esperança.
Mas haverá quem tenha coração?
António Manuel Couto Viana
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