Nocturno de Natal
Frio e treva lá fora.
Aqui, no coração que a vida cansa,
Uma criança chora.
E dir-se-ia que nasceu agora.
-Quem é, que tem, esta criança?
Sei o seu nome, o seu desgosto,
Uma só vez em cada ano.
E, cada vez, lhe enxugo o rosto;
E, com mão trémula, o encosto
Ao meu, já húmido de lágrimas.
Mas, ao sentir, como uma prece,
O meu chorar de arrependido,
Ela sorri, logo adormece.
Depois, a vida segue... esquece...
-Cá dentro, as trevas e o frio!
António Manuel Couto Viana
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