Os enjeitados
Carregando os caixões nos magros ombros
Enterrando na polpa das montanhas
Os tornozelos de aço,
Rasgando no ar fino agudas frestas
Caminham lentamente os enjeitados.
Escasseia-Ihes emprego nas florestas
Nas bancas da cidade revoluta
E transportam a morte com cuidado.
Os pais ocultam-se em locais limites.
Levam aos ombros mitos sem limites
Com seus nomes em cera desenhados.
Ao pôr do sol escutaram a chamada
Que vinha sempre errada.
E sentaram-se à mesa num lugar
Entre desconhecidos e estrangeiros.
Vinha um sopro de lar
De uma língua de tempos derradeiros.
Os silêncios depois cavaram vales.
As margens sepultaram os seus leitos.
Escalaram as montanhas sem vontade.
Fabricaram metralha no seu peito.
Pediram filhos a planetas mortos.
Dormiram com saudades mutiladas.
Beberam sonhos pelo mesmo copo.
Fugiram das cidades em partilha.
Deram as mãos. Sentaram-se a chorar
No choro de uma ilha.
Chove-lhes fogo em dias de criança.
Chove-lhes fel em dias ensombrados.
Jovem povo sem esperança
Desde o ventre da mãe, os enjeitados.
Ocupados no mapa das viagens,
Exaltados no tempo de ir a Marte.
Todos heróis, políticos e pajens
De Herodes e Medeias,
Abrem os pais as veias.
No ar, jorra em cadeias de cadência,
O sangue colectivo de uma ausência.
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