segunda-feira, janeiro 17, 2005

O Estado e o dinheiro

Todos os dias passo várias vezes no Largo Álvaro Velho, lugar que dito assim nenhum eborense conhece mas que todos reconhecerão se esclarecer que é aquele pequeno Largo onde fica o Hotel Planície.
Num dos dias do final da última semana deparei ali com uma banca improvisada onde três ou quatro meninos e meninas recolhiam assinaturas dos transeuntes, sobre qualquer assunto que era anunciado por uns cartazes improvisados com que adornavam a banca e publicitavam a empreitada.
Aproximei-me, movido pela curiosidade, e fiquei a saber: estavam ali para recolher assinaturas a favor da imediata reabertura da Pousada da Juventude, que está escandalosamente encerrada há anos.
Afastei-me, esclarecido e reprovador quanto à "justa causa", mas não resisti a umas reflexões.
Saberão estes jovens o que estão a defender? Será que eles pensam?
Eu explico. A "Pousada da Juventude" é um albergue juvenil que durante algum tempo funcionou nas instalações que foram as do Hotel Planície, que toda a cidade conhece.
A responsabilidade era do organismo governamental coordenador das actividades de juventude, o Instituto Português de Juventude.
A dada altura, já nem sei quando, aquilo fechou com a alegação de conveniência de que iria para obras. E assim continua, há muito tempo.
Penso eu, como também deduziram os rapazes do abaixo-assinado, que alguém tomou a decisão de encerrar o estaminé mas sem os inconvenientes de o dizer abertamente (o medo das "jotas" é uma das características permanentes dos políticos nomeados para esses organismos).
Mas, e aqui chego ao ponto onde eu me espanto com a rapaziada, será que a ninguém ocorrem os motivos singelos e evidentes para tal decisão?
Com efeito, parece-me a mim que não é difícil mesmo ao mais inexperiente raciocinar um pouco sobre os custos (diários, semanais, mensais, anuais...) do funcionamento de instalações como são as do Hotel Planície. Basta lembrar o pessoal necessário, as despesas indispensáveis, só as das contas básicas a que não se pode fugir.
Em resumo: para na maior parte dos dias não ter ali ninguém, e de vez em quando ter ali a dormir uns quatro ou cinco jovens turistas de mochila às costas, que passam uma noite e pagam menos do que se fossem ao cinema, será sempre preciso que o Estado suporte custos na ordem dos milhares de contos, que facilmente e em pouco tempo atingem dezenas de milhares e centenas de milhares.
Sem nenhuma receita em contrapartida, obviamente (e são escusadas explicações retóricas e politicamente correctas sobre os deveres do Estado para com a juventude viajante...)
O encerramento daquilo é uma medida do mais elementar bom senso, uma necessidade evidente para qualquer cidadão minimamente preocupado com a boa administração pública, e com a aplicação do nosso dinheiro.
E continuei a pensar naqueles jovens que ali se entregavam a tão nobre empresa de reivindicação. Que noção têm eles do que seja o Estado? É evidente à análise mais superficial que eles pensam que o Estado é algo que tem o dever de lhes dar isto e aquilo.
A educação que lhes deram não ultrapassou esse conceito. Na visão que lhes instilaram o Estado é pouco mais do que uma máquina que fabrica dinheiro, e que deve estar ao serviço deles.
Nem lhes ocorre que o dinheiro que o Estado tem somos nós que lho damos.
É o nosso rico dinheirinho, tantas vezes gasto em folias e brincadeiras.