Uma estória exemplar
Na sequência do postal anterior não resisto a escrever mais um poucochinho sobre a educativa estória do Hotel Planície.
Não irei à mais remota, a do imediato pós-revolução em que se consumou a ocupação e a "gestão dos trabalhadores", que redundou no gigantesco passivo que comprometeu irremediavelmente a empresa.
Estou a pensar nos episódios mais recentes, aqueles que assinalam o fim do Hotel Planície e o início da "Pousada da Juventude" a que fiz referência.
Passam-se estes no tempo do governo Guterres-Sócrates-Pedroso-Seguro. A pasta da juventude estava muito bem entregue.
E acontecia que o Hotel Planície ia laborando, já nas mãos de uma sociedade a que tinha ido parar no rescaldo das vicissitudes revolucionárias.
Era titular e responsável por essa sociedade e pelo Hotel o Sr. Quaresma, pessoa bem conhecida no sector hoteleiro, em Évora, pela ligação já antiga dele e da família a essa actividade (no Hotel Santa Clara).
Pois, como disse, o Hotel lá ia andando. Mas a qualquer observador era evidente que por razões financeiras o problema não tinha solução. Com efeito, o tal passivo existente fazia com que, por melhor que se trabalhasse, com índices de ocupação no máximo e receitas correspondentes, a empresa só estivesse a trabalhar para satisfazer compromissos bancários.
Nenhuma unidade hoteleira daquela dimensão pode gerar receitas que ultrapassem o peso de um passivo superior a duzentos mil contos, por melhor que trabalhe. A não ser que tenha também uma máquina de fazer dinheiro, como os tais rapazes vêem o Estado.
Mas existia um activo valioso: o edifício, sito no melhor local de Évora, e com caracteristicas que abriam a possibilidade de outros aproveitamentos.
Não evidentemente por outros interessados em hotéis, que sempre se confrontariam com a mesma dificuldade em rentabilizar algo que contava à partida com débitos da ordem que se referiu.
A solução era obviamente, como sempre se pensa em Portugal em circunstâncias destas, o Estado.
E assim aconteceu: um belo dia surgiu a notícia da aquisição do imóvel do Hotel Planície pelo Estado, para instalar a tal Pousada da Juventude, e tudo se consumou em luzida cerimónia.
Algum tempo depois começou a funcionar a Pousada da Juventude no local, até que anos depois alguém, certamente alarmado com os custos de funcionamento, e confrontado com restrições orçamentais, terá tomado a iniciativa de a encerrar invocando a necessidade de fazer obras.
Ao tempo do negócio de compra, após a excursão dos responsáveis do desgoverno de então (Seguro, Sócrates, Pedroso, Guterres), encontrei um alto dirigente do PS eborense, que foi governante, deputado, e agora é cabeça de lista às legislativas.
Não resisti a interpelá-lo sobre o assunto. Parecia-me ruinoso o que me tinham dito; segundo as informações, e grosso modo, o Estado largou mão de uns trezentos mil contos (concretamente ao que me disseram o sr. Quaresma ainda terá podido ficar com uns vinte mil contos, o resto evidentemente foi o pagamento do passivo), e isso para ficar dono de um edifício que em seguida para funcionar como Pousada de Juventude iria gerar despesas permanentes que em não muito tempo provavelmente atingiriam outro tanto. Tinham inaugurado um sorvedouro de recursos públicos. Porquê e para quê?
O político referido, com sinceridade e desfaçatez, retorquiu-me de pronto: ó pá, o que é que tu queres, isso foi discutido lá no partido, era preciso resolver o problema do Sr. Quaresma, que é bom homem, cá dos nossos, e foi isso que se arranjou... as coisas são assim, paciência...todos fazem o mesmo...
Nada mais educativo do que o convívio com os profissionais.
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