A direita, as direitas e a esquerda
Como diria o Jaime Nogueira Pinto, já na sua fase reflexiva e sorumbática, a direita é o conjunto das direitas, as que lembramos e as que esquecemos.
A frase era do velho Prezzolini, e serviu de mote a pelo menos um dos números do "Futuro Presente" (em que aliás foi publicada uma entrevista do autor da "Vida de Maquiavel", concedida originalmente a "Il Borghese" e conduzida em diálogo por Cláudio Quarantotto).
E verifica-se efectivamente que isto das direitas, para além de cada um ter a sua, ainda tem o condão de aquecer um tanto os debates - pese embora a circunstância paradoxal de tais debates serem crescentes quando os votos são minguantes.
Eu não gosto de debater direitas, fico sempre com a sensação que é mais o que se esquece que o que se lembra, mas gosto de observar.
Decorrem estas considerações da leitura dos comentários, sem dúvida pertinentes e interessantes, que foram colocados a enriquecer o meu último texto, sobre a "direitização" do CDS proposta por Matos Chaves.
Significa a vivacidade dessas reacções que a direita se move? Ou que as direitas se fecham e enclausuram e autolimitam?
Eu não sei, e não sei se alguém saberá.
Para já, limito-me ao papel de observador interessado.
Dei conta da movimentação de Matos Chaves no partido mais à direita do painel parlamentar.
Sigo com atenção o que faz o partido de Manuel Monteiro, que poderá ter muito a dizer sobre esta candidatura de Matos Chaves. O PND, aliás, tem em linha um jornal digital de qualidade, o Democracia Liberal, que nos permite acompanhar o que se pensa por aqueles lados.
E acompanho também o que se passa no terceiro dos partidos presentes nos últimos actos eleitorais a disputar um eleitorado à direita: o PNR.
Este procura pouco a pouco alcançar o que lhe falta: consolidar-se e implantar-se, criar núcleos e raízes. Esta movimentação é particularmente visível na própria internet: sigam-se as ligações Santarém, Europa, Coimbra, Portimão, Lagoa, Porto, e percebe-se que há ali uma estratégia coerente, pensada e articulada.
Nada garante que haja executantes capazes (por vezes há guitarras mas faltam as unhas, e para levar este concerto a bom termo é preciso ter gente e ideias, o que nem sempre há), mas estratégia pensada, ao menos por parte de alguns, é patente que existe.
E terá futuro a direita, no seu conjunto ou através de alguma das direitas? A este respeito, que é apenas domínio da futurologia, estou em grande medida com o essencial das opiniões de Fernanda Leitão. Tudo depende muito das próprias direitas.
E não vale a desculpa das esquerdas. Se estas têm tudo, desde a procuradoria ao patriarcado, desde os jornais às universidades, desde os sindicatos aos patrões, desde o governo à oposição, é porque tudo conquistaram, numa longuíssima guerra de trincheiras. Quem quiser e for capaz, terá que fazer o mesmo percurso.
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