Quem nos dera!
Lendo o que se escreve por essa blogosfera fora encontramos, como é natural, posições com que nos identificamos e outras com que não concordamos de todo.
Mesmo naqueles que apreciamos genericamente tropeçamos ocasionalmente com opiniões que não são as nossas - como é normal, repetimos.
Porém, aquilo que encontrei ontem no Absonante e que me levou a escrever este postal, que é de viva discordância, não me parece sequer que seja matéria opinativa: trata-se de realidades, factos, factozinhos, mensuráveis e verificáveis - e o Absonante está muito mal informado sobre eles.
Com efeito, publicou o estimado confrade um texto chamado "O Litoral e o Interior" onde além do mais, que merecia análise mais atenta, sintetiza a convicção que está na base das suas posições aí expressas com esta frase: "Todos concordarão que o custo de vida é violentamente mais elevado no litoral."
Fiquei de boca aberta de espanto. Onde vive o Absonante?
Em Portugal todos os estudos, e existem bastantes, regulares e fundamentados, afirmam precisamente o contrário do que diz.
E trata-se de matéria amplamente divulgada: não é preciso ir ao Instituto Nacional de Estatística (que possui no entanto abundante informação a esse respeito), basta prestar atenção aos resultados que com certa frequência são divulgados pela grande imprensa.
Estou a lembrar-me de inquéritos comparativos que tiveram grande destaque no "Expresso" em que se fizeram análises dos índices de preços em duas cidades do Interior (Viseu e Évora) e duas do Litoral (Lisboa e Porto). A ideia era ter uma visão representativa do Interior Norte, Interior Sul, Litoral Norte e Litoral Sul.
Os resultados, sem surpresa, foram sempre nítidos e constantes: o custo de vida é sempre mais elevado no Interior, e neste o Interior Sul é mais caro.
Ou seja, em todos os indicadores surgia Évora como a cidade mais cara, depois Viseu, depois Lisboa, depois o Porto.
Estes resultados são habituais, e geralmente conhecidos e reconhecidos, sem contestação. As causas também são conhecidas, e diagnosticadas. A terapêutica é que é menos consensual.
Diga-se aliás que essses resultados coincidem com a percepção que empiricamente qualquer cidadão tem no seu dia a dia: tente o Absonante comprar um andar de iguais características em Évora ou no Porto, ou arrendá-lo, ou tente entrar numa loja de vestuário para comprar as mesmas peças em Évora ou em Lisboa, ou simplesmente procure um restaurante para almoçar numa dessas cidades...
Tudo é mais caro no interior! Nem um molho de espinafres consegue comprar mais barato numa vilória da Beira ou de Trás-os-Montes, se era neste tipo de coisas que estava a pensar.
Podem objectar-me que sou parte interessada na discussão, uma vez que vivo em Évora; mas tenho que responder que pelo menos tenho conhecimento de causa, pois já vivi alguns anos em Lisboa e outros no Porto, para além de outras quatro ou cinco localidades espalhadas pelo país. Sei do que falo.
E aquela afirmação, francamente, não lembraria a ninguém.
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