Fernando Pessoa e Salazar
Ali nas caixinhas de comentários saltou mais uma vez a velha discussão sobre o posicionamento político de Fernando Pessoa.
Não resisto a deitar algumas achas para essa fogueira.
Como se sabe, a esquerda procura utilizar uns conhecidos poemas em que o poeta satiriza Salazar e o Estado Novo para concluir triunfante que o homem era um anti-fascista. O logro está por demais desmontado, e não engana ninguém com um mínimo de conhecimento sobre a matéria. Pessoa efectivamente antipatizava com Salazar e com a situação que este institucionalizava; mas a sua antipatia partia toda do ponto de vista que partilhava com os nacionais-sindicalistas, o de não ser o frio e austero Salazar o chefe que devia incendiar as almas lusitanas...
Posição semelhante à que levava Afonso Lopes Vieira a chamar ao ditador "o escandinavo" ou Tomaz de Figueiredo a designá-lo por "fradalhão de Santa Comba".
Todos eles queriam alguém que fizesse sonhar, alguém que nos fizesse "viver heroicamente" em vez daquele culto da normalidade tão tipicamente salazarista, que proclamava como ideal o "viver habitualmente".
Por outras palavras: Pessoa quando ataca Salazar reprova-lhe o ser tão pouco fascista, o ser tão afastado da imagem ideal do Chefe que o inspirava (e que se vê como construção poética na "Ode ao Presidente-Rei Sidónio Pais", ou nos versos da "Mensagem" que dedica a D. Sebastião, ou ao Condestável).
Isto mesmo já foi explanado por múltiplos autores; e para o efeito recomendo a leitura de dois textos de Alfredo Margarido, insuspeito de simpatias com o salazarismo ou com o fascismo, e que se encontram em linha: "Nota curta para lembrar que Pessoa admirou Mussolini" e "Pessoa, ídolo dos nacionais-sindicalistas".
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