Liberais e liberais
Já faz algum tempo que um ilustre bloguista, com assento no Blasfémias, publicou obra em que dava conta de como é difícil ser liberal em Portugal.
Deve ser mesmo; repare-se por exemplo como é frequente os mais encartados liberais dos nossos meios empresariais e respectivas associações começarem os seus discursos públicos tecendo loas ao liberalismo, e à livre concorrência, e acabarem-nos a pedir subsídios para fomentar a competitividade.
Mas faço notar que também é muito difícil ser anti-liberal. Por isso normalmente me abstenho de entrar nessas conversas. É que nunca se sabe onde atacar; liberais há muitos...
Falando sério: o nome da coisa pouco nos diz sobre a coisa. A palavra serve para tanto que já serve de pouco.
E não estou a referir-me à conhecida divergência semântica entre a Europa e a América, que faz surgir geralmente como antagónicas famílias políticas aqui designadas como "liberais" e os que lá se designam pela mesmo termo.
Refiro-me mesmo ao que se passa no nosso pequeno meio, e na Europa, e nos EUA... e já agora no Brasil.
Há tantos liberalismos que me parece que chegam para todos. Cada um tem o seu.
Este postal foi suscitado sobretudo pela leitura de Olavo de Carvalho, filósofo brasileiro que tem sido uma das vozes mais destacadas no combate de ideias na grande nação sul-americana.
Apesar de já ser bastante conhecido junto de alguns meios restritos considero que merece maior divulgação entre o público portugês.
Deixo portanto a ligação para o sítio pessoal do pensador e polemista, e transcrevo o mais recente artigo por ele publicado em Parlata, outra página a seguir com atenção.
Escolha o Adjetivo
Como a expressão “Católicas pelo Direito de Decidir” (CDD) aparece na mídia sem nenhuma ressalva, o leitor entende que se trata realmente de um grupo de mulheres católicas. A impressão é reforçada pelo fato de que elas ocupam um conjunto de salas do prédio da Ordem Carmelita de São Paulo, ao lado da CNBB, sob o olhar complacente de monges, padres e bispos. Mas elas não são católicas de maneira alguma: se entraram na Igreja, foi com o propósito consciente e deliberado de parasitá-la, parodiá-la e destruí-la. A CDD é o braço nacional de uma ONG mundial, a Catholics for a Free Choice, CFFC. Frances Kissling, líder da CFFC desde 1980, não poderia ter sido mais clara quanto ao objetivo da organização: “Passei a vida procurando um governo que eu pudesse derrubar... até que descobri a Igreja Católica.” O Conselho Nacional dos Bispos dos EUA também foi muito claro: “A CFFC não merece reconhecimento nem apoio como organização católica.” Não pensem que o Conselho disse isso por estar repleto de direitistas e reacionários. A CFFC se gabava de ter “estreitos vínculos” com os bispos esquerdistas de Chiapas, México. Mas eles mesmos, em pastoral de julho de 1991, declararam: “Se essas mulheres apóiam o aborto legalizado, temos de afirmar com máxima clareza que isso anula sua pretensão de ser católicas. Elas se excomungaram a si próprias, colocaram-se fora da Igreja.” O primeiro escritório da CFFC foi na Planned Parenthood Foundation, dona da maior cadeia de clínicas de aborto nos EUA, e uma de suas principais financiadoras foi a Sunnen Foundation, que lutava para que o Estado, arrogando-se a autoridade dos antigos imperadores romanos em matéria religiosa, forçasse a Igreja Católica, por lei, a mudar sua doutrina quanto ao aborto. A Sunnen foi também patrocinadora do famoso processo “Roe versus Wade”, apresentado como um caso de estupro, que em 1973 resultou na legalização do aborto nos EUA. Passadas três décadas, a suposta vítima pediu pessoalmente a revisão do processo, confessando que não sofrera estupro nenhum mas fora subornada pelos líderes abortistas para declarar isso no tribunal. O caso agora está de volta na Suprema Corte. Toda a história do abortismo é uma história de fraudes. A atividade da CFFC segue meticulosamente a regra de Antonio Gramsci: não combater a Igreja, mas apossar-se de suas estruturas, esvaziá-las de seu conteúdo espiritual e utilizá-las como instrumento para transmitir a mensagem anticristã. Mas o mal que essa organização faz à Igreja, infiltrando-se nela para corroê-la desde dentro, não se esgota em puro maquiavelismo político. Quando digo que o catolicismo da CFFC é uma paródia intencional, não estou usando de uma figura de linguagem, mas descrevendo um fato: o primeiro ato público da organização, tão logo inaugurada em 1970, foi sagrar sua fundadora, Patricia F. McQuillan, como “Papisa Joana I”, numa cerimônia realizada nas escadarias da catedral de São Patrício em Nova York. Como se isso não bastasse, a revista do movimento, “Conscience”, está repleta de declarações de satanismo explícito, como por exemplo versos ao “doce nome de Lúcifer, lírico, santo”, ou esta ode ao ídolo bíblico Baal: “Do solo onde semeou o trigo novo, Baal levanta-se. Num grito de exaltação, rejubilamo-nos: o Senhor ergueu-se, está sentado novamente no trono. Ele reina. Aleluia!” Em contraste com a ternura kitsch desses louvores ao Príncipe das Trevas, Kissling e outras líderes da CFFC já se referiram ao Papa João Paulo II como “raivoso”, “insensível”, “perigoso”, “fanático”, “hipócrita”, “mentiroso”, “pernicioso”, “cruel”, “mesquinho” e “obsessivo”, entre outras dezenas de adjetivos. Incorrerei em crime de injúria se usar um desses adjetivos, um só, para qualificar a autoridade religiosa que acolhe paternalmente devotas satanistas e se acumplicia com seus feitos anticristãos? Pois bem, o leitor que escolha. João Paulo II nunca mereceu nenhum deles. Mas o clérigo que estende sua proteção mesmo indireta e sutil sobre o satanismo para que seja oferecido aos fiéis como catolicismo merece pelo menos alguns."
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