quarta-feira, maio 11, 2005

A direita de Monteiro

Não querendo ficar de fora da vaga opinativa sobre a direita, sua afundação, fundação ou refundação, Manuel Monteiro presenteou-nos no "Expresso" último com os frutos da sua reflexão. Ei-lo.

À DIREITA DA ESQUERDA
E agora direita? Depois da vitória do PS qual é o caminho? Deve existir uma reorganização de todo o espaço não socialista? Mas que sentido deve ser dado a essa possível reorganização? Uma aliança partidária? Uma plataforma eleitoral alargada que vá para lá dos partidos? Uma candidatura presidencial a partir da qual se parta à conquista do parlamento e do governo? Qual a melhor solução?
A minha resposta a estas questões é simples: a direita em Portugal não tem, no momento, condições para se reorganizar. E não tem essas condições pela seguinte razão: não se reorganiza, aquilo que consistentemente não existe. Continuar a identificar como sendo de direita pessoas e partidos, que de quando em quando se juntam tendo como único objectivo o poder, só o poder, e nada mais do que o poder, é perpetuar um grave equívoco conveniente à esquerda e cómodo a quem vive do sistema e para o sistema, seja ele governado pelo PS, pelo PSD ou pelo PSD em coligação com o CDS.
Insistir na ideia de reorganizar uma direita que, sob o ponto de vista partidário, não existe é querer manter um rotativismo estéril e ideologicamente corrompido. Bem sei que os interesses na manutenção deste estado de coisas são múltiplos. Se as peças estão escritas, os palcos montados e os actores escolhidos, para quê mudar? Continua afinal a ser mais fácil e barato dizer que o PSD e o CDS são de direita, quando se quer falar da oposição ao PS, mesmo se os seus dirigentes proclamam o contrário.
Mas na realidade não há direita digna desse nome, enquanto ela não for efectivamente fundada. O caminho a seguir não é assim o de refundar a direita, mas de a fundar com a clareza e a coragem que a democracia plena exige. Só através dessa fundação se pode construir uma alternativa, que represente todo o amplo espaço que não é de esquerda em Portugal. Falar da refundação da direita é querer juntar num mesmo grupo, de forma utilitária e cega, os que não acreditam na democracia representativa, os vendilhões de qualquer templo, os usurários de qualquer regime, os usufrutuários de qualquer governo ou governação.
Do que Portugal precisa não é de uma velha, tímida e envergonhada, direita refundada; do que Portugal precisa é de uma Direita Nova que una sem unificar, que agrupe e mobilize, sem tolher ou condicionar a liberdade de pensamento. Essa Direita Nova tem de ser objectiva em matéria de Valores Políticos, diferente no que respeita a Opções Ideológicas, para a resolução dos problemas dos homens e das comunidades, e clara no que toca a alternativas eleitorais. Essas alternativas só podem todavia ser fortes, e durarem para lá das normais derrotas em eleições, se possuírem valores ideológicos comuns, programas e agendas verdadeiramente distintos e lideranças que testemunhem seriedade e solidez. Aceite a democracia como regime, a Direita Nova tem de explicar o que pensa sobre o Homem, sobre a Nação, sobre a Soberania, sobre o Estado, sobre a União Europeia, sobre a Globalização. Não há alternativa à esquerda, apenas com pragmatismo político.
A ausência de definição ideológica naqueles que se apresentam a combater politicamente a esquerda, mesmo que se digam de centro ou de centro – direita, apenas aumenta a confusão e estende a podridão do sistema. Ora a podridão do sistema, responsável pelo atraso do país, pela ausência de reformas, pelo imobilismo e pela péssima situação económica e financeira, testemunha o vazio no pensamento de quem nos tem governado. Esse vazio é o principal aliado dos discursos efusivos, que tanto falam da reorganização da direita, como da reorganização da esquerda, desde que isso sirva para manter o jogo político no campo pré seleccionado.
A Direita Nova tem ainda pela frente um percurso a fazer. Não será já nas próximas eleições presidenciais que estará em condições de se apresentar como alternativa à esquerda. Quanto a isso nenhuma dúvida poderá existir. Cavaco Silva não é de direita, nunca foi, e está mais próximo em pensamento e convicção da social - democracia europeia do que muitos socialistas portugueses. Podem alguns querer dizer o contrário, mas se dúvidas sobre isto existirem nada melhor do que lhe fazermos a pergunta directamente. Isso não me impedirá todavia de nele votar, assumindo que a sua seriedade, sentido de Estado e isenção, garantem a estabilidade imprescindível quer ao cumprimento da legislatura, quer ao preenchimento do tempo que estimo como necessário para a fundação da Direita que tarda e falta em Portugal.
Por isso concluo dizendo: para perpetuar e reorganizar coisas na base de equívocos digo não, para fundar e unir uma Direita Nova, eu e muitos mais saberemos dizer Sim!
Manuel Monteiro
Presidente da NOVA DEMOCRACIA
Porto, 5 de Maio de 2005