Direitos consuetudinários
Segundo noticia o "Jornal de Negócios", o governo de José Sócrates em dois meses e meio já fez 1094 nomeações, ultrapassando as 1034 do ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, em idêntico período.
Comentando o facto, José Sócrates afirmou hoje, em Lisboa, que as nomeações que o seu Governo fez desde a tomada de posse são "estritamente políticas" e "cumprem a lei".
Que são "estritamente políticas" ninguém duvidava; que "cumprem a lei", também não custa admitir. Se a lei foi feita para isso, como haviam de estar contra a lei?
Observo apenas que o âmbito da notícia (a "entrada de pessoal para fazer funcionar os gabinetes" e "a habitual dança de cadeiras entre gestores públicos") não fornece nem uma pálida imagem do que se passa um pouco por todo o país.
Quando se olha para o número e a identidade (sobretudo esta) das pessoas agora nomeadas para os múltiplos cargos que a nível local são alvo da cobiça dos notáveis partidários (nomeadamente nos Institutos e organismos desconcentrados ou descentralizados da administração pública, seja o Instituto da Juventude, o Inatel, o IFADAP, o INGA, as CCRs, as Administrações Regionais de Saúde, as Direcções Regionais do Ensino, as Direcções Regionais da Agricultura) não pode disfarçar-se um sentimento de desalento.
Porque a escala torna mais visível o fenómeno, e em cada distrito existe uma lista de umas dezenas de lugares que são objecto de partilha negociada entre a pequena casta dos politiqueiros locais, para quem reside numa cidade do interior, pense-se em Bragança ou em Évora, a partidarização da vida pública e da própria administração é uma realidade muito mais notória e pesada do que para quem vive e trabalha em Lisboa ou no Porto.
Mas é a vida - como dizia o Eng. Guterres - e temos que viver com aquilo que temos - como já dizia o anafado camarada Soares.
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