quinta-feira, junho 30, 2005

Noites à Direita, ou a direita acidental

Um grupo de conhecidos cidadãos lançou um conjunto de iniciativas que denominou "NOITES À DIREITA". Entre elas o blogue, para o qual remeto, e uma série de conferências que terá começo no próximo dia 5 de Julho, no Café Nicola, em Lisboa.
Quanto ao essencial da ideia, lançaram um manifesto explicativo, que convido os meus leitores a ler com atenção.

"1. Está a chegar o tempo de começar a fazer alguma coisa de novo à Direita, para além dos partidos, mas nunca contra qualquer partido.
2. Está a chegar o tempo de afirmar a existência de novas direitas, que só sabem viver em Democracia e que não a trocam por nada deste mundo.
3. Está a chegar o tempo de uma Direita que não acredita em utopias, porque conhece a realidade e sabe que esta não se transforma só com boas intenções.
4. Está a chegar o tempo de uma Direita que sabe ouvir e quer discutir com quem tem espírito independente, seja de Esquerda ou de Direita, para poder avançar com novas propostas. Uma Direita que sabe que há vários tipos de liberais e o que os une é a ideia de que as decisões fundamentais sobre o modo de vida de cada um devem ser assumidas pelos indivíduos, e não pelo poder político.
5. Está a chegar o tempo de uma Direita que já não se revê em velhos costumes e bandeiras ultrapassadas, mas que também não se resigna à agenda política da Esquerda.
6. Está a chegar o tempo de uma Direita que assuma uma atitude mais liberal. Mais liberal nos costumes, na economia, na política e na sociedade, nomeadamente no modo como olha e se relaciona com os media.
7. Está a chegar o tempo de uma Direita que acredita na liberdade de cada pessoa e na responsabilidade individual como valores primeiros da Democracia.
8. Está a chegar o tempo de uma Direita que defende o princípio de que a interferência do Estado na esfera privada do cidadão deve ficar circunscrita ao mínimo indispensável.
9. Está a chegar o tempo de uma Direita que acredita no liberalismo económico como factor vital para o aumento de produtividade da economia portuguesa, essencial ao bem-estar dos cidadãos.
10. Está a chegar o tempo de uma Direita que não acredita no fim das ideologias e defende que a Democracia precisa de Esquerda e de Direita porque vive da alternância e o centro não é alternativa."


Sem querer de modo algum hostilizar os promotores de tão louvável iniciativa, mas apenas contribuir para o debate de ideias que eles dizem procurar, convido agora os meus pacientes leitores a lerem com a mesma atenção o texto que se segue.

"1. Está a chegar o tempo de começar a fazer alguma coisa de novo à Esquerda, para além dos partidos, mas nunca contra qualquer partido.
2. Está a chegar o tempo de afirmar a existência de novas esquerdas, que só sabem viver em Democracia e que não a trocam por nada deste mundo.
3. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que não acredita em utopias, porque conhece a realidade e sabe que esta não se transforma só com boas intenções.
4. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que sabe ouvir e quer discutir com quem tem espírito independente, seja de Direita ou de Esquerda, para poder avançar com novas propostas. Uma Esquerda que sabe que há vários tipos de liberais e o que os une é a ideia de que as decisões fundamentais sobre o modo de vida de cada um devem ser assumidas pelos indivíduos, e não pelo poder político.
5. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que já não se revê em velhos costumes e bandeiras ultrapassadas, mas que também não se resigna à agenda política da Direita.
6. Está a chegar o tempo de uma esquerda que assuma uma atitude mais liberal. Mais liberal nos costumes, na economia, na política e na sociedade, nomeadamente no modo como olha e se relaciona com os media.
7. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que acredita na liberdade de cada pessoa e na responsabilidade individual como valores primeiros da Democracia.
8. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que defende o princípio de que a interferência do Estado na esfera privada do cidadão deve ficar circunscrita ao mínimo indispensável.
9. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que acredita no liberalismo económico como factor vital para o aumento de produtividade da economia portuguesa, essencial ao bem-estar dos cidadãos.
10. Está a chegar o tempo de uma Esquerda que não acredita no fim das ideologias e defende que a Democracia precisa de Direita e de Esquerda, porque vive da alternância e o centro não é alternativa."


Como poderão constatar os atentos, limitei-me ao exercício simples de elaborar um segundo texto copiando o primeiro mas substituindo sempre as palavras Direita e Esquerda uma pela outra. Onde estava Direita aparece Esquerda, e vice-versa.
Para os leitores fica o exercício de imaginação restante: calcular quem poderia lançar e assinar o segundo texto.
E fico por aqui, por pensar que cheguei ao ponto crucial das minhas dúvidas sobre as posições apresentadas com ruído e espalhafato pelos ilustres responsáveis deste projecto. Com efeito, desde há muitas décadas a gestão das principais sociedades do ocidente europeu tem sido assegurada à vez por uma autodesignada esquerda e por uma autodesignada direita. Como se reconhecerá por qualquer breve análise histórica, a direita em questão pode subscrever inteiramente o que consta do manifesto agora apresentado com o brilho de novidade. E a esquerda a que me referi também já lançou em múltiplas ocasiões e lugares manifestos que em nada se distinguem do que generosamente lhe redigi.
Em suma, a excursão histórica que propus conduz à conclusão inevitável de que com essa direita tratou-se sempre de alternância, e nunca de mudança. E traz a inevitável suspeita que o teor do manifesto atirado ao vento mais não seja que mais do mesmo.
Acrescento ainda como comentário final que é natural que assim seja, visto que, como é observável no exercício de substituição que me ocorreu, nada há no tal manifesto que não pudesse ser dito e assinado pela esquerda.

10 Comments:

At 5:11 da tarde, Blogger Flávio Santos said...

E ainda escrevem (ponto 10) que "o centro não é alternativa"!

 
At 5:43 da tarde, Blogger O Corcunda said...

Há "muitos tipos de liberais à direita", mas esqueceram-se de mencionar os que não o são...
Mais do mesmo!

 
At 10:45 da tarde, Blogger vs said...

"... as decisões fundamentais sobre o modo de vida de cada um devem ser assumidas pelos indivíduos, e não pelo poder político."

EXACTAMENTE!
Mais nada!
O resto é de deplorar e combater.
Firmemente.

 
At 11:00 da tarde, Blogger camisanegra said...

Pois... é isso, Nelson... exactamente como dizem o Francisco Louçã, o Vicente Jorge Silva ou o Daniel Oliveira...

 
At 11:47 da tarde, Blogger vs said...

Não, Camisa Negra...NÃO É!
Ai isso é que não é.
Esse 'senhores' que citou defendem uma sociedade baseada em concepções eminentemente colectivistas.
Nas sociedades regidas pelos regimes defendidos por essas aventesmas NUNCA houve uma concepção individualista. Pelo contrário, os indivíduos foram sempre sacrificados em nome de uma abstracção chamada colectivo.
Quando o dizem é da boca p'ra fora, para ver se os 'papalvos' caem.

Já eu e os que pensam como eu levamos essa frase MUITO A SÈRIO , e não como mera figura de retórica para 'encantar' otários-filhinhos-de papá-burguês-armados-em revolucionários...como fazem os supracitados idiotas.

Recomendo-lhe mais uma visita ao site do 'Libertarian Party'.
Só faz bem.

 
At 11:49 da tarde, Blogger PPM said...

É isso, Nelson, se me permite tratá-lo pelo primeiro nome. A democracia é assim: há direita e há esquerda e os eleitores têm a opção de escolher uma ou outra. Se substitui a direita por esquerda é só isso que acontece. Mas diga-me lá onde é que encontra uma esquerda "que defende o princípio de que a interferência do Estado na esfera privada do cidadão deve ficar circunscrita ao mínimo indispensável". Ou "uma esquerda que não acredita em utopias, porque conhece a realidade e sabe que esta não se transforma só com boas intenções".
A esquerda é utópica por natureza, sobretudo quando está na oposição, é claro.
Permita-me uma pergunta para ver se vale a pena voltar aqui ou não: o senhor acredita na democracia pluralista ou é a favor de um regime de partido único, autoritário e limitador das liberdades?
Se a sua resposta for a segunda, posso-o informar que também há uma esquerda totalitária que pensa exactamente o mesmo que o senhor.

PPM

 
At 1:01 da manhã, Blogger vs said...

É isso mesmo PPM, concordo plenamente.
Mas a 'nossa' luta ainda não acabou.
Ainda subsistem alguns Estados totalitários.
É preciso continuar o combate.
É preciso 'DAR-LHES QUE AINDA MEXEM'.

;)

 
At 1:03 da manhã, Blogger vs said...

" Com efeito, desde há muitas décadas a gestão das principais sociedades do ocidente europeu tem sido assegurada à vez por uma autodesignada esquerda e por uma autodesignada direita."

E ainda bem.
E assim VAI CONTINUAR por muuuuuuuuuuuuuito e muuuuuuuuuuuuuitas décadas ainda.

Quer apostar?

 
At 11:21 da manhã, Blogger O Corcunda said...

O que o PPM disse no seu comentário não passa de um chorrilho de lugares-comuns sobre esquerda e direita e que não demonstra uma devida ponderação do assunto.

A Direita não se caracteriza pela sua esfera de intervenção sobre as escolhas individuais!

Não é de Direita aquele que diz que se devem abolir os sinais de trânsito, por isso resultar em maior liberdade individual (uma vez que isso é uma miopia de alguns leitores berlinianos). É de Direita aquele que busca nos princípios o justo lugar para a Ordem (sempre necessária e fundada no Justo) e a Liberdade (fundamental, pois só ela permite o desenvolvimento da Justiça da alma, ou o que se diria hoje, desenvolvimento pessoal, que eu chamaria virtude moral).

O homem de Direita, como muito bem vê Burke, compreende que o voluntarismo rousseauniano, a ideia de que o Homem tem direito às suas vontades, é o totalitarismo. A restrição da vontade, ao contrário dessa "liberdade individual privatista" é a própria essência do político!
O homem de direita percebe a necessidade dos sinais de trânsito, ordem, e coloca-os ao serviço do Bem Comum! O mero liberal pensa que se deixar uma "spontaneous order" governar o trânsito ficará tudo bem...

Toda a esquerda foi anti-intervencionista, anti-colectivista.
Pode ver a esquerda americana até aos anos 20 e não encontrará socialismo! Encontrará, isso sim, a mesma estrutura privatista, pragmatista e positivista que o PPM preconiza... Aí não há de facto nada de novo!
Ou a 1ªRepública Portuguesa onde se eliminou a perspectiva Cristã de justiça política (que se manteve de forma residual) em prol de um democratismo e de uma teoria Iluminista...
Ou a esquerda Benthamista e utilitarista...
Daqui a pouco vêm dizer que Hume é um pensador conservador...

Em relação às utopias a coisa ainda é mais preocupante! Será que a direitinha não tem nenhum objectivo de sociedade? Claro que sim! Um Estado-mínimo, a escolha livre dos cidadãos... São utopias dos Iluministas, sejam eles escoceses ou franceses... Não são ideias que partam do "real", nem no sentido empirista, nem no sentido tomista! São ideias pré-formatadas, uma Revelação dos Direitos do Homem...
Se isto não é utopia, não sei explicar o que o será... Só não é a utopia de justiça social dos socialistas, mas é a utopia iluminista no seu máximo expoente!

Rica direita!

 
At 12:46 da tarde, Blogger vs said...

"Se isto não é utopia..."

Não, não é utopia.
É uma cada vez mais palpável realidade, tendo em conta o crescente desmantelamento do monstro Estado e a crescente desregulação do mercado.

Como vê, por estes lados não há utopias.
Há objectivos e ....cortar a direito

 

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