Sobre Jorge Dias
Passeando pela net encontrei no Saadyroots uma citação do Professor Jorge Dias, sobre o Português:
"As virtudes e os defeitos mantiveram-se os mesmos através dos séculos, simplesmente as suas reacções é que variam conforme as circunstâncias históricas.No momento em que o Português é chamado a desempenhar qualquer papel importante, põe em jogo todas as suas qualidades de acção, de abnegação, sacrificio e coragem, e cumpre como poucos.Mas, se o chamarem a desempenhar um papel mediocre que não o satisfaz, a sua imaginação esmorece e só caminha na medida em que a conservação da existência o impele. Não sabe viver sem sonho e sem glória. Estagna assim na apatia do espírito, faz a critica acerba contra o que não está àquela altura a que aspira ou cai na saudade negativa, espécie de profunda melancolia."
Este encontro fez-me interrogar mais uma vez sobre quais as razões da escassa fortuna de que gozou sempre em Portugal a obra do Professor António Jorge Dias. Nunca percebi (sem ironia, não entendo mesmo) os motivos para o fraco conhecimento e divulgação, até nos meios universitários e nos círculos pretensamente cultos, da extraordinária obra do grande etnólogo e etnógrafo.
Um trabalho vastíssimo, criativo e original, único no nosso país, e que desde Vilarinho das Furnas a Rio de Onor aos longínquos Macondes tudo levantou e analisou com perspicácia crítica invulgar, deixando publicados mais de uma centena de títulos que trouxeram para o primeiro plano a preocupação do conhecimento científico das tradições nacionais, salvando do esquecimento usos e costumes locais, levando para o meio universitário a discussão sobre o conceito de cultura - para tudo permanecer oculto pela poeira espessa da ignorância instituída.
É uma pena. Mas aqui assinalo a citação, com a minha opinião de que as considerações de Jorge Dias sobre uma "psicologia nacional portuguesa" permanecem ainda entre o mais significativo e relevante que até agora se escreveu a esse propósito (sem deixar de referir também a importância dos dois livros de Francisco Cunha Leão - "O Enigma Português" e o "Ensaio de Psicologia Portuguesa" - que ao que julgo podem encontrar-se na Guimarães Editores), e sobre os quais também recaiu o desinteresse e o silêncio.
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