Trabalho político
Se dúvidas existissem, os últimos dias bastariam para fazer a prova de como a direita portuguesa, para ganhar existência e consistência de realidade, carece antes do mais de se dedicar a um trabalho político em profundidade, por natureza longo e sem compensação imediata.
Aponto como exemplo o espantoso clima que envolveu as cerimónias fúnebres de conhecidas personalidades que o Santo António entendeu por bem levar de entre nós.
Foi tal o aluvião propagandístico, a enchente de banalidades e lugares comuns que não resistem à menor crítica histórica, a histeria da esquerda dominante e a inteira submissão mental da direita consentida, que como sempre troteia embevecida ao seu comando, que dir-se-ia estarmos regressados ao frenesim dos tempos do PREC.
E todavia, examinadas as coisas com algum distanciamento, aquelas ideias e aquele universo mítico parecem já nada ter a ver com a realidade do nosso tempo e da nossa sociedade. Estão porém tão solidamente implantados no pequeno mundo que conforma e deforma a opinião pública, no país mediático que cria as imagens e representações, que uma visão do mundo falsa e grotesca, quase caricata e infantil, se ergue perante as multidões como epopeia de altos ideais e intangível valor.
Será assim enquanto outra cultura e outros homens, livres das sujeições intelectuais que aprisionam o situacionismo, não se prepararem devidamente e se aprestarem a tranquilamente ocupar as trincheiras nos aparelhos de condicionamento ideológico.
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