sábado, julho 30, 2005

Lâmpada de Dezembro e ano morto, ano posto

1
A meio d'uma noite em que a ressaca
do passado redobrou d'intolerância,

deitei a minha infância sobre a maca
- e meti-a, depois, numa ambulância...

Fez-se um silêncio de cortar à faca...
E eu disse adeus, p'ra sempre, a toda a infância,

nessa noite sem sol, que se destaca
da distância...

2
(Ao ALBERTO CORRÊA DE BARROS)

Co'o Menino Jesus recém-nascido
ou já com o Ano-Bom a qu'rer entrar,
era certo e sabido que o amigo
lá vinha ter comigo
por via epistolar,

com o sempre-vivo fim de me saudar.
(... E às vezes, contíguo ao texto corrido
d'um bilhete transido,
d'um cartão lapidar,

também um desenho - um desenho alusivo,
a nanquim colorido,
e de traço sensitivo e singular -

Vinha então, lá do norte, ter comigo,
remetido pelo punho do amigo,

no momento desabrido
de Dezembro desabar...)

- ... E era bom receber das mãos do amigo,
no Natal, essa espécie de folar!

3
Singre o Tempo, a todo o pano!
- Mas de sorte que este Povo,
para além d'um novo ano,
tenha um ano
mesmo novo!

Se é para ver, pela frente,
ao largo d'um ano inteiro,
apenas gente aparente...,
gente de sangue rafeiro...,

- vale mais, então, que a gente
nem sequer entre em Janeiro!...

(Por mim, preciso d'ar
puro
para fitar
o futuro.)

RODRIGO EMILIO