Arde ou não arde?
Diferentemente do "Público", o "Diário de Notícias" optou por não disfarçar o cheiro a queimado que vem dos lados de São Bento. Na realidade, não adiantam tentativas patéticas para tentar esconder o óbvio.
Para se avaliar como o fogo está a atacar nessa zona, pode ler-se Vasco Graça Moura (A diferença na indiferença), Francisco Azevedo e Silva (Muitas promessas e muitos incêndios), ou José de Matos Correia (Para que serve um primeiro-ministro).
A síntese é feita por Luís Delgado, em "Governo que arde".
Assim:
De ciência certa, e tendo como pano de fundo tudo o que se passou e está a passar, este Governo sofrerá, em Outubro, no Centro e Norte do País e nas zonas mais afectadas pelos fogos - que só na catástrofe é que mereceram um pedido de ajuda urgente à União -, uma forte penalização do eleitorado.
Os portugueses têm uma grande facilidade de esquecer as desgraças, e quando começar a chover tudo se esbaterá, mas a proximidade eleitoral não perdoa. Pergunta-se o que é que os incêndios têm a ver com o Governo? Nada e tudo. Nada porque não dependem de nenhum decreto governamental, mas tudo quando as populações perdem os seus bens de vidas inteiras de trabalho e o Governo deveria ter feito mais, muito mais, em tempo útil, e isso não será esquecido pelos eleitores, quando chegar a hora, e por muita injustiça que os autarcas possam sofrer. É o que é, e a isso não será estranha a nova postura governamental, muito mais preocupada, activa, e disposta a não esconder o que é evidente para todos, e que ainda está fora de controlo.
Para o ano será melhor, garante o Governo, com mais meios e uma prevenção cuidadosa. Com isso podemos todos, mas já chega de jurar que tudo estará a funcionar, e todos os meios disponíveis, em 2006. Para quem viveu e vive o drama destes dias, e os que ainda poderão vir, o Verão de 2006 é uma eternidade, e não é com isso que se reconstruirão as vidas. O Governo merecia isto? Não sei, mas a arrogância política "mata", o atirar as culpas para cima dos outros já não pega, e a política da desvalorização não existe, pelo peso e impacto que os portugueses viam, em directo, o que estava a acontecer. São dois países o verdadeiro, a ferro e fogo, e o político, a assobiar para o lado.
Esse mundo, fechado, inatingível, distante e asséptico não existe, com os meios de comunicação que temos ao nosso dispor, e parece extraordinário que o Governo, e o PR, não tenham consciência plena disso. Não precisamos de intermediários, ou psicólogos, para perceber a grandeza do desastre que assola Portugal, e muito menos de discursos irrealistas.
Portugal só precisa que apaguem os incêndios.
Creio que António Costa (visivelmente chamuscado), e mais o seu primeiro (que chegou em último), e o seu núcleo estratégico, estarão todos a lamentar-se que foi azar. Não estava previsto que a "época dos fogos" viesse a ganhar esta expressão quantitativa e se arrastasse de forma tão flagrantemente intolerável. Até dá raiva, mas nestas condições uma estratégia tão simples e geralmente eficaz como o vivam habitualmente, gozem as férias, assobiem para o lado, desdramatizem e esperem que passe, torna-se grandemente comprometedora. A partir de um certo ponto a desvalorização apresenta-se contraproducente. Ninguém tinha calculado que isto chegasse a tanto - raios partam o azar! E vamos a ver como será possível minorar os estragos.
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