A cultura como imperativo
A verdade é que um dos meios principais, não o mais violento mas certamente o mais hábil e eficaz, de desarmamento dos povos é o apagamento da memória.
Acaba-se com o ensino da História, atira-se para um canto o ensino da Língua, declara-se que não há tempo para a literatura nacional - e chega-se com rapidez estonteante a uma geração que desconhece tudo, mas tudo, sobre o seu passado colectivo, as suas raízes, mais próximas ou mais distantes.
Um povo que se desconhece não pode amar-se nem estimar-se, e está disponível para todas as abdicações.
Hoje em Portugal o primeiro obstáculo para a comunicação é logo à partida a ignorância crassa; tudo o que é nosso, mesmo o mais elementar, é encarado como extraordinária revelação pelas massas estupidificadas.
O problema com as novas gerações é sobretudo esse. Como pode ler e pensar capazmente quem não domina mais que um português rudimentar, incapaz de articular uma frase com sentido ou exprimir um pensamento?
O que podemos e devemos fazer é lutar contra o esquecimento, cultivar o gosto e o apelo da memória. É importante insistir e manter acesa a chama, para que um núcleo, ainda que pequeno, possa ir descobrindo, por vezes com maravilhamento, que há muito mais do que aquilo que lhes foi impingido como cultura oficial.
Cada um de nós deve fazer o que puder para não levar consigo aquilo que conheceu e amou, para transmitir o que recebeu.
Acredito que a paixão é contagiosa, e que a sedução opera, até por via encantatória.
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Subscrevo!
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