quarta-feira, agosto 31, 2005

Dos media e da esquerda

São muito conhecidas as análises sobre o domínio das posições de esquerda entre os profissionais da comunicação social, e a sua falta de correspondência com a distribuição de tendências entre o público destinatário.
Conheço essa polémica recorrente pelo menos em França, na América, no Brasil...
A opinião que se publica está sempre à esquerda das sociedades a que se dirige - e as quais trabalha nessa direcção.
O pormenor mais curioso li-o há pouco tempo, confesso que esqueci onde: segundo um estudo efectuado as proporções desse predomínio variam conforme a área a que se dedicam os jornalistas.
Concretamente: a zona das redacções onde o peso esquerdista é mais acentuado seria na área da cultura, a seguir nas secções de política, e as páginas menos à esquerda seriam as de economia.
Inversamente, as opiniões de direita apresentam-se quantitativamente mais representadas à medida que caminhamos da cultura para a política e desta para a economia.
Esta observação divertiu-me sobretudo porque fiquei convencido que ela mesma parte de conceitos sobre esquerda e direita que, no meu modesto entender, são de esquerda. Falando francamente, a direita a que essa conclusão se refere como pontificando mais nas secções de economia coincide certamente com aquela que partilha com a esquerda a aceitação do primado do económico, divergindo dela tão só nos aspectos organizativos propugnados - em nome da eficácia e da competitividade, e não por força de qualquer princípio filosófico.

1 Comments:

At 11:24 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Subscrevo.
Aquilo que o Manuel Azinhal diz é evidente e só não o vê quem não o quer.
Depois há o conceito de direita, e tal...

Basicamente (e intuo-o mais do que o sistematizo...) a imposição do Liberalismo à sociedade portuguesa no início do século XIX foi feito a 'contra-corrente'. A sua introdução entre nós foi feita 'à bruta' e, paradoxalmente, a pedido das elites aristocraticas e profissionais.
No nosso Alentejo e no Ribatejo levou à completa desestruturação social e ao emergir de verdadeiros e absolutos proletários sem nada (mesmo nada!) de seu. A Norte não se observou esta desestruturação mas assistiu-se à continuação do Antigo Regime num certo caciquismo eleitoraleiro tantas vezes retratado, por exemplo, em Eça ou em J. Dinis.
Adiante: para aspirarmos a uma direita moderna necessitamos de ter uma sociedade moderna e, nesse sentido, há falhas enormes. Como dizia alguém, 'continuamos a andar de burros e a desconfiar do próximo debaixo do gel e dos óculos escuros'...

Não maço mais,
Francisco Nunes

 

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