terça-feira, agosto 23, 2005

A net e a crise da imprensa

Está a vir ao de cima, pelo que sei ao menos em França, em Espanha e em Portugal, uma discussão aflita sobre a crise da imprensa e a internet, que se reflecte em campanhas várias.
Os jornais de papel queixam-se de um mercado cada dia mais reduzido pela concorrência dos gratuitos e dos digitais.
E se esses se lamentam do decréscimo das tiragens, todos, meios escritos ou audiovisuais, choram a fuga da publicidade, a cada hora mais escassa e disputada.
Mas se bem olharmos verificamos que as preocupações não se limitam à questão financeira, à luta pela sobrevivência económica.
Se bem repararmos vemos que o que lhes dói, mais do que a fuga de receitas publicitárias provocada pela imprensa digital, é a perda do monopólio da fabricação das representações sociais da realidade.
As queixas mais doloridas vão para “os perigos da Internet”, a falta de controle do que aqui se passa, a necessidade de regulamentação do meio.
Facilmente se percebe a mensagem.
Um dos pilares das nossas sociedades ocidentais é o domínio da cultura e da opinião pública. Como teorizava o ideólogo comunista António Gramsci, os intelectuais é que podem mudar as mentalidades; e com muito mais eficácia do que as escolas, que se encarregavam disso no século XIX, quem tem agora essa função são os media.
Agora as escolas criam analfabetos, e os meios de comunicação dão-lhes as palavras de ordem com que se orientam, ensinam-lhes o que pensar, em quem votar ou o que aplaudir.
A imprensa, a comunicação, não é apenas um negócio que vende noticias, mas também ideias, opiniões, ideologia.
Como já se provou, a imprensa pode vencer exércitos, pode ganhar eleições, e os golpes de Estado dão-se antes de tudo na televisão, na rádio, nos periódicos.
E aqui está a verdadeira razão do pânico: o meio digital parece ser incontrolável.
Os donos do jogo, que há muitos anos impõem as suas consignas e estabelecem um reinado de terror, com um rigoroso patrulhamento ideológico e a denúncia paralisante dos que se afastam da linha justa definida pela cartilha, sentem o terreno a fugir-lhes debaixo dos pés.
Como se alcança com nitidez também em Portugal.
De onde decorre também o alto apreço em que devemos ter, cada dia mais e mais, a internet.

2 Comments:

At 6:03 da tarde, Blogger Rodrigo N.P. said...

A análise está correcta,"it's always the same old story", uma história de dinheiro e influência.

Por um lado os estudos de mercado apontam para o deslocamento dos gastos de publicidade da imprensa tradicional para a internet. com isso está também reconhecida a crescente influência deste meio.E os mesmos estudos são claros em afirmar que o verdadeiro boom ainda está longe.

Isto significa que a período dourado da internet ainda está para vir, o meu receio é que tornando-se a internet o veículo usual de procura de informação seja submetida a formas de controlo, de forma a "filtrar" a informação. Não é nada que "eles" não pretendam, se poderá ser feito ou não será outra questão...

 
At 11:47 da manhã, Anonymous Anónimo said...

!não tenham medo senhores, a internet só pode assustar os iletrados os cansados os desgostosos , os biliosos os rancorosos, os salmeireus, os rincossóis os graferins, e outros parecidos , uma horde que não quer a mudança, não quer pestana queimada, agora que o rímel é fraco e as sweat rooms da china fabricam muito mas de pouca qualidade- boa metáfora para a internet, há muito muito mas com pouca qualidade de uso, é fartar vi(lan)agem...

 

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