sábado, agosto 20, 2005

O bem da nação

Eis o mais recente artigo de Nuno Rogeiro na revista "Sábado". Para edificação geral. E que leia quem souber.

O bem da nação

Parte da minha geração militante acreditava no "nacionalismo revolucionário". Eu continuo por lá.

Isso pode hoje parecer arqueológico, ou, para usar uma palavra cara a Vasco Pulido Valente, "fantasista", mas a verdade é que parte da minha geração militante acreditava no "nacionalismo revolucionário" (NR). Eu, pescador, me confesso: continuo por lá.
As simplificações são sempre perigosas, e não se conseguirá colocar o Rossio do "nacionalismo" na Betesga deste artigo. Mas pode ir-se adiantando que, para a nossa clique pensante, o NR não era de "esquerda" nem de "direita", embora pudesse agregar gentes dessas famílias, e de outras.
Haveria por ali anarquistas integrais e integralistas católicos, marxistas e tradicionalistas, "fascizantes" e "comunistas", mas a ideia geral era a de que, na ordem política visível, a "nação" era o valor supremo. A "nação", para o NR, não era porém nem o "torrão pátrio" dos românticos, nem o império dos conquistadores (de opereta ou a sério), nem o "País" dos patrioteiros e da "burguesia", colonialista, neocolonialista ou paracolonialista. Não era também, claro, o "Estado", nem o "sistema de governo".
Tratava-se de outro nome para a "comunidade popular", delineada voluntariamente na história, projectada na universalidade, e cuja liberdade e independência precisavam de ser defendidas, no presente e futuro.
A palavra voluntariamente era sobremaneira importante. Como se sabia dos livros (antes, desde o liceu) e dos factos (a começar pela besta nazi), as nações involuntárias, deterministas, "objectivas" ou "étnicas", eram sempre uma criação administrativa de um poder despótico, apesar dos seus putativos momentos "liberais".
Portugal aparecia-nos como projecto "voluntário", no sentido em que dependia da vontade exclusiva dos seus membros, não oprimiria terceiros (o NR era o contrário do imperialismo, em muitos sentidos), não discriminaria por critérios "externos" (como a cor da pele) e se solidificava "culturalmente" através de múltiplos factores (a observação de Pessoa sobre a Pátria-Língua fazia, achávamos, muito sentido).
0 NR era "revolucionário" (por oposição ao "nacionalismo reaccionário") no sentido em que se dispunha sempre à "revolução" para salvar ou libertar a Nação (em perigo, ou ocupada), e ainda porque advogava a revolução social, no sentido de criar um elemento "interno" de justiça (este era o elemento mais discutível, e que dividia, pois era mais "ideológico" do que "pragmático").
Por outro lado, é preciso admitir que admirávamos - como certas, ou apenas "adequadas" - as revoluções "nacionais" na América Latina, na China, no Médio Oriente, e que partíamos de um princípio: Portugal precisava de uma "estratégia" de sobrevivência e afirmação, e não de meros remendos "tácticos".
Leituras? António José Saraiva e Franco Nogueira, Manuel de Lucena e Borges de Macedo, Pulido Valente e Nogueira Pinto, Raul Brandão e Eça, Pessoa e Torga, e muitos outros, com rasgos ou confirmações. E ainda o pequeno mas luminoso ensaio de José Miguel Júdice, introduzindo o incompreendido e interdito José António.
Porque me lembrei eu de tudo isto? É preciso fazer um desenho?

8 Comments:

At 4:11 da tarde, Blogger Flávio Santos said...

Acho que o Nuno Rogeiro é um leitor habitual de blogues de direita, o que lhe tem acendido uma chama há muito quase apagada...

 
At 9:59 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At 2:01 da manhã, Blogger �ltimo reduto said...

Só meto a colherada para dizer que se fosse em "minha casa", apagava o nojento comentário anterior. Não é nada de pessoal, mas deu-me para isto, agora apago comentários todos os dias. Quem tem fama tem que tirar o proveito!
Quanto ao artigo de Nuno Rogeiro, gostei de ler, francamente - e também acho, à semelhança do FG Santos, que o Rogeiro lê blogues "nacionalistas". Acrescento ainda - que o Manuel não referiu - que o Rogeiro faz igualmente na Sábado uma óptima sugestão de viagem, que já recortei e tenciono levar a sério...

 
At 2:01 da tarde, Blogger Combustões said...

Li com máxima atenção o texto de Nuno Rogeiro, procurando suspender quaisquer
juízos precipitados como injustos.Sinto-me perfeitamente à vontade a respeito do signatário e do movimento em que militou (o MN), pois se não conheço pessoalmente o Nuno Rogeiro - cumprimentamo-nos, é tudo - o MN nunca me interessou. Sempre achei aquilo um grupo fechado, entregue aos kriegspiel, a sínteses mais que duvidosas e a um militantismo frenético, que logo acabou.Com excepção do Nuno Rogeiro, aquilo era, quiçá, a espuma de uma direita que foi "evoluindo" para os negócios, a politiquice dos partidos e a tentação de entrar a todo o custo.
Sou, porém, leitor de Nuno Rogeiro, que estimo pelas suas qualidades intelectuais e pela coragem moral que exibe ao contrariar publicamente os cânones com que se vai entretendo a provinciana, obscurantista e milagrista "direita portuguesa". Aliás, o NR é tão de direita como eu. Abomino a hipocrisia das figurinhas e figurões, persisto em situar-me na "área".
Voltando ao texto, creio tratar-se de um interessante documento, útil como demonstrativo das infindáveis nuances que a inteligência pode - e deve - experimentar. O Nuno Rogeiro não é um crente, um fanático ou um semi-letrado à procura de dois ou três migalhas de autoridade catequista. Habituada a não pensar, a nossa "direita" recusa a aventura do conhecimento e da contradição. Habituada a não ler e comparar, sem mundo, vive enterrada em lugares-comuns. A culpa não é de NR: é da pobreza do meio.

 
At 4:06 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Não me surpreende que o Nuno Rogeiro leia os blogues de direita,
nem me surpreende que os blogues de direita não queiram que sejam lidos por Nuno Rogeiro.

 
At 5:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"(o NR era o contrario do imperialismo, em muitos sentidos), nao discriminatoria por criterios "externos"(como a cor da pele)"...
Se o Fernando Louca sabe disto ate o convida para o BE! Quem sabe!Conclui-se que o NR era pelos negros africanos e contra os seus compatriotas de sangue brancos, colonos em africa, ou nao? Alias "nacionalistas" destes ha muitos por ai. Nem uma palavra, por exemplo, para a comunidade portuguesa na Africa do Sul.
Aprendam com o estado de Israel
"Por outro lado,e preciso admitir que admiravamos-como certas,ou apenas adequadas- as revolucoes "nacionais" na America Latina, na China, no Medio-Oriente"...
Deduz-se que NR apoiava os movimentos nacionais de libertacao em Africa,ou nao?

"Comunidade popular"!? A qual? A que integra "harmoniosamente"(!!) negros, brancos, amarelos, castanhos, num arco-iris que ate parece a Africa do Sul de hoje, onde os brancos sao mortos quotidianamente.

Sera isto uma "comunidade"? Parece-me que o NR nao compreende, ou nao sabe, o que e uma verdadeira comunidade.

Esta e, para mim, uma solidariedade efectiva entre pessoas com a mesma origem etno-cultural remota, baseada num projecto comum de valores e ideais.

O NR nao passa de uma ma caricatura
do que diz ser!
Nao percamos tempo com tipos destes!

 
At 12:01 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At 7:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 

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