O Mito de Portugal
"O materialismo nega que as Pátrias sejam entidades reais, que elas tenham uma existência para além do nome. Esta negação corresponde ao erro lógico do Nominalismo que entende certas categorias do pensamento como simples recursos vocabulares para abstrair do real, quer dizer, do único real que são as coisas. Um radicalismo nominalista é o que anuncia a prédica - as coisas são apenas coisas - ou rejeita que nos nomes haja outra realidade, como ocorre num verso de Álvaro de Campos, para quem não há metafísica nenhuma. E, todavia, as Pátrias são entes reais, de natureza espiritual, por isso a muito clássica tese de que as Pátrias são como que segundas causas pelas quais a Providência garante à ínfima espécie que é o indivíduo (pessoa) as condições de vivência, de convivência e de comunhão em vista de um ideal, ou de uma causa final ou teleológica.
O Estado pode sofrer de precariedade, de apenas se resumir a um consenso transitório, mas a Pátria antecede e poscede a realidade do Estado, sobretudo quanto este se resume a mero formalismo jurídico, por não incarnar o cerne da Pátria. Há sempre Pátria, mesmo que não haja Estado. As Pátrias são entes dinâmicos, inerem muito mais ao mito do que ao facto, muito mais ao finalismo essencial do que ao acidentalismo da história positiva."
(Pinharanda Gomes, comentando nas páginas de "O Diabo" o livro de José Eduardo Franco intitulado "O mito de Portugal", editado pela Fundação Maria Manuela e Vasco Albuquerque d'Orey)
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