Porque não se fazem as reformas?
Parece-me oportuno recordar o que escreveu Pacheco Pereira em Janeiro último, num dia em que se achou mais inspirado, a propósito de um programa televisivo em que compareceram a debitar banalidades e evidências, além de outros, os senhores Pinto Balsemão, Mário Soares, Miguel Cadilhe e Adriano Moreira. Fica ao vosso critério a razão da lembrança.
"Por que é que o que disseram os "senadores" me pareceu inútil? Porque nem num momento só emergiu a identificação de qualquer dos obstáculos reais à mudança em Portugal. Ora, não há reformas sem identificar os interesses que as impedem e apontar os meios de os combater. Ponto. Todos eles têm razão: temos problemas de coesão social (Soares), as mudanças identitárias do país no mundo não são percebidas pela população nem pelos políticos (Moreira), o Estado funciona mal e é um obstáculo à produtividade (Cadilhe), os partidos políticos são medíocres (todos), estes entendem-se no que não deviam entender-se e no que deviam agridem-se (Balsemão), etc., etc. Tudo isto sabemos bem e são hoje lugares-comuns. Por que razão é que nada é feito e parece que não temos instrumentos, nem vontade para o fazer? Por que razão há tanto sentimento de impotência que nem os melhores sequer tentam? Por que é que tudo parece sólido betão, resistindo a todas as tentativas de mudança, engolindo as veleidades reformadoras, engendrando uma mediocridade que lhes é salvífica? Porque há poderes e interesses poderosos, identificáveis, nomeáveis, com cabeças individuais e institucionais, e eles estão firmes que nem uma rocha e mandam em Portugal. Existem nos sindicatos, nas fundações, nos partidos, na comunicação social, nas associações empresariais, nos grandes grupos económicos, nas ordens profissionais, nos grandes escritórios de advogados, nos clubes de futebol, nas autarquias, na "cultura" organizada. É normal que seja assim em democracia, o que não é normal é que seja tão difícil exercer a autoridade democrática contra eles, ou para além deles, quando é necessário pelo bem comum.
É que isto não vai com pactos, porque se fosse já tinha ido. O sistema político é suficientemente racional para que se fosse possível, numa mesa de negociações, unir PS e PSD para diminuir as despesas de saúde, ou de segurança social, ou modernizar a administração pública - as diferenças ideológicas, que já são pequenas, não impediriam um acordo em cinco minutos. O problema é que por detrás de todos os "problemas" estão interesses de todo o tipo, a começar pelos interesses económicos poderosos e a acabar pelos "interesses" da pobreza, do remedeio, da baixa qualificação, do mundo protegido da competição, da preguiça, da apatia, típico das sociedades excessivamente dependentes do Estado e do subsídio - se sobrevivo assim, mais ou menos, porquê arriscar um mundo que me pode ser mais hostil? Os partidos políticos estão mergulhados nestes interesses, a montante e a jusante, e, frágeis como são, precisam de "comprar" eleitorado com a promessa de que nada muda na mediocridade."
3 Comments:
É impossível não concordar com o Pacheco (e admira-me como é que o PSD ainda não o expulsou ou o levou a PM).
No que respeita aos interesses que impedem a execução de Reformas, o maior e o mais poderoso (coincidência?) é o temível Lobby da Justiça. Este apenas quando o PM ameaçou acabar com o regabofe que são as férias de 3 meses levantou-se logo em peso e está ainda em greve de zelo (como se não estivesse já).
Obrigem essa classe de privilegiados a trabalhar e vejam como país avança. Se essa classe fôr posta no lugar, os outros interesses vão de seguida.
O JPP tem sempre a virtude de perguntar porque é que os outros nunca fazem nada, entretanto o que é que ele fez até à presente data?
Candidatou-se a Primeiro-Ministro? A presidente da Câmara de onde é natural (Porto)? A Presidente da República? A gestor de uma qualquer empresa pe ponta em fase de arranque?... ou prefere viver à sombra do partido que o alimenta, sendo uma espécie de Grilo Falante que em nada incomoda os poderes bem agarrados aos cadeirões?
...mas não é só esse o problema do JPP...!
É que ele, no fundo, é um agente da integração no sistema.
O homem tem sempre alguma coisa a dizer, mas se se trata de mudar mesmo a sério, ou se se trata de atacar a fundo, ele aí está para salvar a sua dama, para salvar o sistema torpe em que vivemos, confundindo o mau sistema que temos com o regime democrático.
Não se consegue libertar do complexo de esquerda que adquiriu quando se estava a formar...
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