Boa gente
Atacado por todos os lados por força de um gesto de má criação, o Dr. Carrilho resolveu minorar os danos.
Vai daí, andou pela Picheleira de mão estendida e sorriso de plástico esforçando-se por apertar na sua quantas mãos populares apanhasse a jeito.
O povinho não o poupou a críticas, e ele lá teve que as ouvir e manter aquela cara de lombriga ramelosa com que fica quando procura fazer um ar simpático.
Por outro lado, foi falando para os jornalistas com ademanes de prima dona, declarando-se extremamente ofendido, exigindo que o adversário se retratasse, e acrescentando que "quem não se sente não é filho de boa gente".
Aquela do retratar-se deu-me logo vontade de rir, por me lembrar a resposta perplexa de um compadre alentejano quando o incentivavam a retratar-se para pôr fim a um processo por injúria: "pronto, atão amande lá vir o retratista..."
Mas aquele "quem não se sente não é filho de boa gente" ficou a roer-me cá por dentro. Apeteceu-me logo responder-lhe que nem sempre os filhos de boa gente saem aos seus, e que por acaso até me parece ser esse o caso...
"Quem não se sente não é filho de boa gente", diz o Dr. Carrilho de si mesmo, procurando causa de exculpação. Subentendido está que ele é filho de boa gente.
Ainda bem que assim é, e estou em crer que é mesmo verdade, apesar de não ter conhecido os pais do declarante. Porém, recordo-me que em Viseu era geral o apreço e a consideração pelo pai dele. Já depois do falecimento houve até uma iniciativa para o homenagear, a que aderiu toda a cidade, sem distinção de cores políticas.
E os organizadores convidaram o filho do homenageado, que não só se recusou a colaborar e a estar presente como até disse porquê.
Nessa altura, ninguém tinha tido a mesquinhez de dizer que não alinhava na homenagem por razões de posicionamento político; teve-a o distinto filósofo, que aproveitou o convite para expressar o seu repúdio por tudo o que pudesse redundar em proveito (julgo que mesmo apenas moral) da horrenda direita.
Dessa vez perdeu uma excelente ocasião para dizer ou escrever que o pai tinha sido "boa gente" - como aliás pensavam todos os que o homenagearam, e que ficaram com a impressão que o filho é que assim não pensava.
3 Comments:
O pai era boa gente. Ele, não. Ponto final.
Tem o Eurico razão. Ponto final.
Coitadinho do Dinis Maria. Já não lhe chegava ter a mãe que tem e ainda tem o azar de ter um Pai assim. Coitado do puto, pois está-lhge vedada a hipótese de "se sentir" pois não é filho de boa gente.
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