Mais um suicídio na PSP
A notícia do suicídio de mais um agente da PSP diz mais do que todos os discursos sobre a desmoralização que atinge as forças de segurança. Ontem foi em Setúbal, hoje em Lamego... O elevado número de acontecimentos semelhantes em tão pouco tempo não permite iludir a realidade e defender que estamos perante problemas estritamente pessoais, sem ligação com a corporação.
A verdade é que o mau-estar e um estado de depressão difusa são um problema generalizado nas forças de segurança, gerando manifestações sintomáticas graves, desde o alcoolismo ao suicídio.
Existe um serviço de acompanhamento psicológico na PSP, aliás pouco conhecido e ineficaz. Podemos e devemos exigir que se institucionalize a obrigatoriedade de avaliações psicológicas periódicas, como acontece em muitas polícias do mundo, e que se criem os mecanismos de assistência e tratamento adequados. Até para evitar que os agentes policiais se matem, ou matem outros cidadãos.
Porém, creio que para atacar a raiz dos problemas será preciso ir mais longe. E os responsáveis políticos vão ter que enfrentar mais tarde ou mais cedo o descontentamento profundo que corrói as nossas forças de segurança.
Não é possível reerguer um Estado provocando sentimentos de humilhação e revolta nas forças armadas, nas forças de segurança, na função pública, nas magistraturas, em toda a administração. E quem governa tem que se interrogar sobre afinal o que é que quer: manter-se no governo, através da gestão de clientelas e de nichos do mercado eleitoral? Ou governar efectivamente, com visão de Estado e objectivos nacionais?
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