O sonho mexicano
Já vem de longe a alusão a um "sonho mexicano" no Partido Socialista português. Houve tempo em que se falou nisso, e depois deixou-se de falar porque a evolução política não favoreceu essa perspectiva. Mas o modelo do PRI, aliás partido-irmão na Internacional Socialista, colonizando o estado e confundindo-se inteiramente com este, parece ter ficado presente num certo subconsciente do PS.
A euforia da vitória de Fevereiro último deve ter sido decisiva para o avivar dessa tendência; no sentimento de muitos socialistas, o céu passou a ser o limite - ou deixou de haver limites.
Só assim se explica o impudor e a arrogância de certas nomeações em que ninguém acreditaria antes, de que são paradigma os casos de Armando Vara e Fernando Gomes.
Se, anteriormente a esses factos, alguém soprasse a notícia de que Vara e Gomes iam ser nomeados para os cargos que ocupam, não é verdade que de imediato muitos e muitos socialistas diriam que se tratava de uma intriga ou de uma calúnia contra o partido?
Agora surgiram na ribalta Guilherme Oliveira Martins e António Vitorino, a propósito de lugares para os quais era exigido normalmente, de acordo com os hábitos políticos, ao menos uma certa aparência de isenção e independência, para que uns fingissem tê-la e outros fingissem acreditá-la.
A nível regional e local o menos que se pode dizer é que desapareceu de todo o simples respeito pelas conveniências. A voracidade junta-se à falta de vergonha, num regabofe total (e nem vou concretizar com exemplos eborenses, para não deixar a suspeita sobre motivações de natureza pessoal numa crítica que é política).
O que espanta é a completa indiferença às reacções da parte desta gente que parece julgar que é poder para sempre, a cegueira autista de quem não se apercebe que o tempo e o lugar são outros e que não é realista pensar em "mexicanizar", seguindo as receitas do México de ontem, o Portugal de hoje.
1 Comments:
"O que espanta é a completa indiferença às reacções da parte desta gente que parece julgar que é poder para sempre, a cegueira autista de quem não se apercebe que o tempo e o lugar são outros e que não é realista pensar em "mexicanizar", seguindo as receitas do México de ontem, o Portugal de hoje."
Agora gostei muito de ler o Manuel.
E dou-lhe razão.
Sobetudo no 'julgar que é poder para sempre'.
Gostei desta sensibilidade, digamos, democrática. :)
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