Outono
A melancolia e o desencanto percorrem a blogosfera.
Lê-se o que aparece no Jansenista, no Combustões, no Misantropo, e sente-se a brisa da tarde.
Eu compreendo-os; mais do que nunca, o optimismo é uma preguiça do espírito, como recorda o PCP.
Subsistem umas ilhas de irredutíveis liberais, e neoliberais, e ultraliberais, and so on, que continuam firmes na sua crença de que uma mão invisível equilibrará tudo isto; e que tudo tende naturalmente à harmonia, e os homens à felicidade, corrijam-se umas maldades artificiosas e artificiais que impedem o curso da vida e a humanidade correrá tranquila para um mar de prosperidade.
Tirando esses núcleos, a fé no progresso, no crescimento, no desenvolvimento, encontra-se razoavelmente abalada. E a apreciável militância deles não contagia o estado de espírito da generalidade dos destinatários.
Com efeito, esses prégadores já andam a dizer o mesmo há bem mais de duzentos anos. São semelhantes às Testemunhas de Jeová, que só nestas últimas décadas, em que me lembro de ser gente, já anunciaram o fim do mundo como certo um ror de vezes - sendo que à data marcada e perante a desobediência dos factos tornam a fazer nova marcação, explicando que não se enganaram, a realidade é que se enganou.
Nestes últimos dias de vida pública portuguesa os fundamentos com que se fazem ilusões não sobejaram.
Temos agora fartura de candidatos presidenciais, depois de termos estado tão carenciados que chegou a pensar-se que a vaga só seria preenchida com anúncio nos jornais e abertura de concurso público.
Porém, olhando para eles, Soares, Alegre, Louçã, Jerónimo, Garcia Pereira, o encoberto Cavaco, o país sabe que de nenhum ouvirá nada que eles não tenham repetido mil vezes nas últimas décadas.
Ao ler o que tem escrito no "Público" o cronista Vasco Pulido Valente fico ligeiramente arrepiado. Nenhum perigoso extremista tem assinado sentenças tão radicais, nem descrito cenários tão apocalípticos. Ora anuncia que "estamos todos, da Alemanha a Portugal, na iminência de uma catástrofe, que irá tornar o mundo em que nascemos num mundo irreconhecível e hostil", ora chama a atenção para a insignificância das figuras caricatas de Valentim, Isaltino, Avelino ou Felgueiras perante a dimensão dos discretos donos do regime, que há vinte ou trinta anos não valiam coisa que se visse e agora tratam tu cá tu lá com os grandes do mundo, acertando negócios de centenas de milhões.
Efectivamente, o mundo está perigoso. E lamacento.
1 Comments:
Acontece que essas 'Testemunhas de Jeová, como o Manuel 'lhes' chama não andam enganados.
O que se passa é que poucos, para além dos Saxões, 'lhes' deram razão.
Os resultados estão à vista.
Veja-se o caso dos alemães e dos franceses.
Nos últimos dias soubemos, atónitos, que pela 1ª vez, os alemães estão a emigrar.
Os franceses, carcomidos paela estulta estatolatria também.
Adivinhe (ou investigue) para onde.
Devagar, devagarinho, a água irá ao moínho.
Disso não tenha quaisquer dúvidas.
(quem costuma anunciar constatemente o 'fim do mundo eminente' e 'soluções redentoras e messiânicas' não são aqueles a que chama de 'Testemunhas de Jeová'. Felizmente, esses (as verdadeiras 'Testemunhas de Jeová', enganaram-se SEMPRE)
Enviar um comentário
<< Home