segunda-feira, outubro 17, 2005

As eleições autárquicas em Évora (continuação)

Prosseguindo, vou alinhavar mais alguns pensamentos que me ocorreram relacionados com os resultados das eleições autárquicas em Évora.
Na ordem segue-se o PSD.
O que se me afigura sensato consignar à partida quantos aos resultados deste é que os mesmos, sendo suficientes para enfileirar o partido entre os vencedores, não devem ser hipervalorizados, da mesma forma que não devem ser desvalorizados.
Quero eu dizer que reconquistar o vereador perdido, depois de oito anos sem representação na Câmara, é em si mesmo um bom resultado. Tanto mais quanto o vereador alcançado ficou na posição de fiel da balança, sendo crucial para o funcionamento do executivo municipal e conferindo um peso acrescido ao partido no concelho. Soma-se ainda o facto de entre as eleições de 2001 e estas de 2005 o PSD ter sido, de longe, a força que mais progrediu em número de votos e em percentagem.
Trata-se portanto de uma vitória real, e nela devem ser reconhecidos os méritos pessoais de António Dieb e Palma Rita, que acreditaram e trabalharam para ela.
É uma vitória verdadeira, e não um triunfo semântico, uma vitória retórica, uma fraca consolação como teve o PCP ao voltar para a presidência da Junta de Freguesia da Malagueira pondo a Margarida Fernandes onde estava a Luísa Baião, por um punhado de votos a mais na lotaria eleitoral.
Contudo, se a vitória é verdadeira não se pode dizer que seja uma grande vitória. O PSD subiu, mas em sintonia com o que aconteceu em quase todo o país. Foi um movimento geral que foi acompanhado a nível local. E com ele conjugaram-se as causas específicas que já apontámos no escrito anterior: o eleitorado que voltou a votar no PSD não representa algo de novo em relação ao seu espaço natural, significa apenas que o eleitorado naturalmente PSD que se tinha transviado em 2001 e em 1997 (por factores diversos, desde as trapalhadas com Carmelo Aires até aos episódios pitorescos de Óscar Almeida e outros, que desgastaram o partido junto dos seus, e culminando na vontade de pôr fim ao reinado comunista que convergiu a favor de José Ernesto em 2001).
Os resultados de 2005, para concluir, não devem ser desvalorizados - porque em política nunca é fácil restaurar o perdido; e não devem ser motivo de euforia, porque bem vistos os números não há ali nenhuma ultrapassagem, nenhuma superação do tecto que já era conhecido - e que não é satisfatório para um partido que a nível nacional é o primeiro.
Resta mencionar os restantes sujeitos em liça. E nestes ressalta de imediato o CDS.
O que há a dizer resume-se facilmente: a cada nova eleição a lista apresentada tem metade da votação da anterior. Atingiu agora uma expressão eleitoral ao nível da insignificância. Para um partido que pretende ter uma dimensão e uma influência que no plano governamental o coloquem no "arco governamental", os números verificados em Évora são trágicos. E o pior é que nem são de estranhar: a candidatura não existiu, a campanha não se viu, toda a gente sentiu que se tratava apenas de marcar presença. Na última dúzia de anos o partido primeiro estagnou e depois retrocedeu; fechou-se e enclausurou-se, desistindo de ser o partido popular que em tempos remotos procurou ser.
Em Évora, ao apresentar para a Câmara uma lista encabeçada por Mariana Torres Cascais e para a Assembleia Municipal uma chefiada por António Pestana de Vasconcelos o partido confundiu as eleições com um jantar de família. Tios e primos reunidos em Vale de Moura não chegam para constituir uma força política credível, e aliás nem os próprios acreditaram nisso. Não teve nem os votos correspondentes aos sócios do Círculo Eborense.
Finalmente, tivemos candidaturas do Bloco de Esquerda e do PPM.
Confirmou-se o que era visível já nas listas: o Bloco limita-se a umas raparigas e uns rapazes de aspecto exótico, que em geral se ocupam ou no teatro ou em artes circenses, e que para além do forte pendor artístico e intelectual se distinguem pelas roupas coloridas, uns piercings em sítios esquisitos e um intenso cheiro a erva. Nem o Frederico Mira apareceu desta vez; julga-se que procura credibilidade. Quanto ao PPM, era só o Vasco Câmara Pereira, que a pedido do Nuno e do Gonçalo fez à pressa uma lista onde estavam mais dois irmãos, a mulher, o filho, a sogra, mais não sei quantos familiares e afins e ainda uns poucos amigos que acederam a dar o nome. Tudo visto, não se pode conceder a estes exercícios uma natureza propriamente política.

1 Comments:

At 9:40 da manhã, Blogger Manuel said...

Ora essa!
Eu conheço toda a gente!

 

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