quarta-feira, outubro 19, 2005

As prioridades

Outro jornal desta manhã realça os rigores do orçamento socratista (um outro goza com as trapalhadas do filósofo sobre gripes e vacinas, mas agora deixo este de lado).
O que me prendeu foram as questões dos cortes e apertos, em palavras simples a falta de massa.
De acordo com a notícia, não há dinheiro para os projectos (há muito anunciados e calendarizados) de expansão das linhas de Metro de Lisboa e periferia. Concretamente, o orçamento não prevê nada para as linhas que iriam unir Algés e Loures e restantes pontos da rede do Metro lisboeta. De igual forma não há dinheiro para os hospitais prometidos (tanto pelos anteriores governos como por este, mesmo antes de o ser). Especificamente, os hospitais previstos para as zonas de Loures e de Vila Franca vão ter que esperar não se sabe até quando. Pelo menos, até que haja dinheiro, o que não se prevê quando possa acontecer.
Todavia, como explicam os governantes a outra importante voz da comunicação social, o aperto orçamental é compatível com a Ota e o TGV. Para estes empreendimentos o orçamento vai conter a indispensável provisão.
Compreendo perfeitamente: as centenas de milhares de pessoas que se aglomeram nas zonas suburbanas da periferia de Lisboa e que seriam servidas pelas adiadas extensões das linhas de Metro para Algés e Loures provavelmente não são potenciais clientes do TGV, e nunca andarão de avião. E as centenas de milhares de cidadãos das áreas de Loures e Vila Franca que em aflições de saúde têm que recorrer aos congestionados serviços do velho Hospital de Santa Maria e do velhíssimo Hospital de Vila Franca também não se incluem no mercado potencial dos tais megaprojectos: quase certamente não são candidatos a andar de avião, nem viajarão no TGV.
Os responsáveis políticos que decidem e a respectiva clientela é que por seu lado também não têm nenhuma intenção de andar de Metro, e se tiverem problemas de saúde não irão para as filas de espera em Santa Maria ou em Vila Franca.
Temos portanto que haverá dinheiro para um grande aeroporto internacional na OTA, como houve para dez magníficos estádios de futebol. Mas ainda nunca houve dinheiro para acabar com os tristes abarracamentos situados mesmo junto ao actual aeroporto, ou para instalar energia eléctrica para os moradores dos arredores de alguns dos reluzentes novos estádios.

1 Comments:

At 3:28 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Um diagnóstico claro sobre o trágico (des)governo que está aí para durar...

 

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