Futurologia, China e Islão
Voando sobre a espuma dos dias, puxando-nos a olhar de mais alto e para o que importa, publicou novo artigo o Combustões. Em foco desta vez Upton Close e Spengler, o despertar da Ásia , o futuro previsível.
Brilhante, e deveras estimulante. Mesmo que hesitemos em assinar: isso já é da subjectividade (leia-se, próprio do sujeito) de quem lê.
Exemplo? O parágrafo final, onde se escreve que "no deprimente quadro histórico em que mergulhamos, marcado pela não declarada guerra de civilizações, a China não é a inimiga, mas um parceiro contra o Islão. O que nos custa é dividir o mundo com outra civilização. O que nos custa é reconhecer que se os chineses possuem capital de sacrifício - que os ocidentais já perderam - é com eles que teremos de nos entender, sem cedências, mas com leal espírito de partilha".
Não está mal visto, embora desde logo me tenha surgido a objecção de que a Ásia é algo muito mais complexo do que a China: porque no jogo da Geopolítica há que considerar os papéis de outras potências como a Índia, o Japão, o Paquistão, a Indonésia, para não falar de outros sujeitos menores mas importantes (Vietnam, Coreia, Malásia - e sem referir os jogadores como a Rússia, a América, a Áustrália-Nova Zelândia, que para o caso não são tão pouco "asiáticos" como isso).
Para se ver como estas análises deixam sempre muitas dúvidas, lanço o desafio a quem goste do exercício: tente inverter os termos da equação apresentada pelo Miguel. Ou seja: pensemos se será absurdo pensar que no deprimente quadro histórico em que mergulhamos, marcado pela não declarada guerra de civilizações, o Islão não é o inimigo, mas um parceiro contra a China. O que nos custa é dividir o mundo com outra civilização. O que nos custa é reconhecer que se os muçulmanos possuem capital de sacrifício - que os ocidentais já perderam - é com eles que teremos de nos entender, sem cedências, mas com leal espírito de partilha.
Tenho a certeza que o meu exercício não é original; em muitas oficinas de pensamento devem estar a ser estudadas as duas hipóteses (mesmo mais: porque não tornar tripartida essa lógica bipartida? Claro que ainda haveria quem se sentisse de fora, e grande demais para isso...). Entre os estrategas chineses também não são ignoradas, como é notório nas manifestações da sua política externa, que pouco a pouco procura tecer e instalar uma rede de apoios exteriores aos mundos ocidental e islâmico, simultaneamente, de modo a prevenir. O problema do cerco é a grande preocupação geostratégica da China, e está a ser levado muito a sério, com tempo - e paciência de chinês.
Quanto ao que chamei Islão, por comodidade e para continuar nos termos do Combustões, tenho as maiores dúvidas sobre se algo existe pensado e desenvolvido com rigor e coerência. Pelas razões que me levariam a expôr o meu cepticismo quanto à possibilidade de falar sem mais num "mundo islâmico", como agora se generalizou no nosso universo ocidental - mas esta já seria outra conversa, e demasiado longa.
Fica aqui apenas a chamada de atenção para o texto do Combustões, e para a problemática em que nos faz pensar.
E já agora, porque curiosamente vai desaguar em alguns dos pontos no mesmo mar de questões, recomento a leitura deste artigo do Dextera Vox, que também se propôs fazer um exercício de futurologia.
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