quinta-feira, novembro 24, 2005

Outra vez as sondagens

Hoje os dois principais diários de Lisboa fazem título com resultados de sondagens sobre as próximas presidenciais.
Ambos, na primeira página, a toda a largura, informam o eleitorado sobre as escolhas deste, caso tivesse votado por estes dias.
Ficou assim o eleitorado a saber, pelo "Público", que o seu voto iria inteirinho para Cavaco Silva, que garantidamente ganharia à primeira volta, com 57% do total.
E ficou o mesmo eleitorado a saber, pelo "Diário de Notícias", que o mesmo Cavaco está em descalabro, tendo já descido para 44% dos votos.
É natural que o povo soberano fique um tanto confundido; ou o universo sondado não foi o mesmo ou algo de estranho se passa com as sondagens.
Surge inevitavelmente à lembrança a publicação nas vésperas das últimas autárquicas de resultados estranhíssimos, por sinal com a mesma marca de origem.
Sem nenhum gosto em afundar ainda mais a reputação de damas tão duvidosas, não se pode deixar de perguntar francamente se os resultados fornecidos pelas empresas de sondagens estão realmente dependentes de quem as encomenda (entenda-se aqui "encomenda" no sentido que se quiser).
Com efeito, não parece convincente vir mais uma vez com explicações técnicas tentar argumentar que é perfeitamente normal que na mesma altura, com os mesmos meios e sobre o mesmo objecto duas sondagens (credíveis... dirão ainda os especialistas?) tenham resultados tão díspares. Entre 57% e 44% não há "margem de erro" que se aguente!
Some-se a isto os precedentes já apontados, e a inevitável observação sobre os donos dos órgãos de informação em causa: os que apoiam Cavaco dão Cavaco, os que já nas referidas autárquicas brilharam pelos fantasiosos resultados atribuídos ao PS continuam nessa área - e põem Cavaco em queda...
Será que das sondagens se pode dizer o mesmo que dos touros de lide - que saem ao dono?
A este respeito, recordo que já há uns anos o Dr. Miguel Sousa Tavares explicou publicamente que tinha deixado de acreditar em sondagens no tempo em que foi director de um importante órgão de informação escrita e se passou que ao receber no seu gabinete os resultados já tratados de uma sondagem que tinha sido realizada para o mesmo, acompanhados naturalmente pelo técnico responsável da empresa sondadora, manifestou alguma estranheza perante alguns dos resultados apontados; e de imediato o dito técnico responsável lhe retorquiu com a mesma naturalidade que não havia problema, se alguns dos resultados não lhe agradavam faziam-se algumas pequenas correcções e tudo se comporia. Era a aplicação prática do princípio de que o cliente tem sempre razão.
As coisas são efectivamente assim? Marktest? Dr. Oliveira e Costa?

6 Comments:

At 10:52 da manhã, Blogger Flávio Santos said...

Também nenhuma sondagem para as Legislativas de 1987 dava maioria absoluta para o PSD, que venceu com 50% dos votos. Soube-se mais tarde que as sondagens davam efectivamente maioria absoluta para o PSD mas que os jornais que as encomendaram acharam esse resultado pouco credível e por isso composeram a coisa.

 
At 2:10 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Atenção que uma sondagem faz a distriubuição dos indecisos (Público) e a outra não (44/85=52).

 
At 2:56 da tarde, Anonymous Anónimo said...

E os votos em branco?


D. Dantas

http://monarquico.blogspot.com/

 
At 2:57 da tarde, Anonymous Anónimo said...

UI, peço desculpa... queria dizer
http://voto-branco.blogspot.com/

 
At 3:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

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At 4:25 da tarde, Blogger Luís Bonifácio said...

http://margensdeerro.blogspot.com/2005/11/numeracia-precisa-se.html

http://margensdeerro.blogspot.com/2005/11/ponto-de-situao.html

Uma explicação por parte de quem efectivamente percebe de sondagens. Dois postais pouco lisojeiros para a "Classe" jornalística

 

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