terça-feira, dezembro 27, 2005

CANTOS AO DIVINO

Envolviam-se em mantas e rojavam
Os pesados bordões
Pelas ruelas do burgo desgastado
Por cismas e claustrais melancolias,
Sobressaltado
De evocações,
Oscilando no mar das ventanias,
Envolviam-se em mantas e cantavam...
Que gélidas, atrozes,
As noites desse Inverno! Entanto,
O bando
Dos cantadores, pelas ruelas divagando,
Prosseguia em seu canto!
Cálidas rescendências
Cresciam do florir das densas vozes,
Dessas vozes de tardas ressonâncias,
Extinguindo-se ao largo, nas distâncias,
Em hálitos de luz, em transcendentes,
Incertas refulgências
De auréolas de nascentes e poentes...
Era um coro que vinha, gemebundo,
Das almas, do profundo
De tudo o que há de humano,
Remontando-se a místicas Moradas,
Embebidas em sonho imorredoiro,
A cimos relumbrantes como brasas,
E, regressando, enfim, das extasiadas
Romagens do seu voo soberano,
Em um desmaio de oiro,
- Plenas de glória, as asas! –
Cavadores, ganhões, heróis da gleba,
Dos páramos de Beja,
Lá onde, sempre a errar, minha alma adeja,
Emergiam, fantásticos, da treva,
Erguendo cantos, como a erguer troféus...
Eram esses que enlaçam
A Terra aos Céus,
Nos coros que de assombros nos trespassam,
Longe de si - presentes só em Deus!
Cantavam ao Divino!
Cantavam, arroubados de Harmonia,
Àquela Nova Estrela que nascia;
Ao Deus-Menino,
Que, embalado nas vozes, lhes sorria!

Mário Beirão