Histórias de quadradinhos
Leitura da manhã, pilhada no "Diário de Notícias",
onde Eurico de Barros consigna a sua indestrutível vinculação aos quadrinhos.
Um conhecido de um amigo meu telefonou-me há dias. Sabia que eu tinha a colecção inteira, em estado óptimo, do Tintin português, e estava disposto a pagar-me uma quantia muito simpática por ela. "A minha colecção tem muitos buracos e vários exemplares que parece que andaram debaixo das rodas de um camião", explicou. "E como o Tintin fez parte da minha formação, estou pronto a fazer-lhe uma boa oferta."
Fê-la, e recusei-a com amabilidade, porque o Tintin português - e, intermitentemente, o Tintin belga e o Pilote - também fizeram parte da minha formação, e nem morto me desfaço daquela colecção. Nem dos exemplares desirmanados do Tintin belga, nem dos sucessivos anos encadernados do Pilote, nem de um só álbum da minha algo considerável colecção de banda desenhada (BD) franco-belga clássica. (Sublinhar clássica).
Na "guerra" BD franco-belga/comics americanos, pertenço ao primeiro partido desde que me conheço. Que foi, tradicionalmente, o mais forte em Portugal, pelo menos até meados dos anos 70, quando começaram as importações em massa de comics directamente dos EUA e uma nova geração impôs o consumo em grande quantidade das revistas de super-heróis.
A verdade é que muitas das pessoas mais cultas, mais inteligentes, com maior variedade de interesses e mais solidamente formadas e educadas que conheço são consumidoras da grande BD franco-belga desde a mais tenra idade.
Mais do que só um entretenimento, uma leitura de mera distracção, uma mania que "passava com a idade", a BD franco--belga da "idade do ouro" foi parte fundamental da formação estética, intelectual e moral de muita e boa gente, e serviu de porta de entrada para toda uma variedade de outros interesses e gostos, das artes plásticas à História, passando pela engenharia. Lembro-me de um colega de liceu que foi para Clássicas por causa do Alix, outro que seguiu Ciências por causa da paixão pelas aventuras de Blake e Mortimer, outro ainda que a leitura voraz, entusiástica, de Buck Danny levou a uma carreira na Força Aérea.
Vender a minha colecção inteira, em estado óptimo, do Tintin português? Nem dez professores Miloch me conseguiam obrigar.
11 Comments:
I prefer "Mortadelo y Filemón".
Também colecciono e gosto. O F. Ibañez é genial! Bom ano de 2006, Manuel!
«Na "guerra" BD franco-belga/comics americanos, pertenço ao primeiro partido desde que me conheço. Que foi, tradicionalmente, o mais forte em Portugal, pelo menos até meados dos anos 70» - esta afirmação é bastante incorrecta, pois a influência americana foi mais forte até meados dos anos 60, quando o Mundo de Aventuras, grande divulgador daquela, perdeu peso para o Tintin. Para a geração de 50 (e para coleccionadores mais novos, como eu) a BD clássica americana é sem dúvida a de maior qualidade e heróis como o Príncipe Valente, Rip Kirby, Flash Gordon, Big Ben Bolt são imortais. A BD franco-belga, de que também sou consumidor ávido, é a meu ver menos perfeita, basta comparar o desenho dos rostos nesta com o da BD americana. E muita BD europeia não franco-belga merecia maior divulgação, como o Cuto do grande Jesús Blasco.
Do you remember "Inspector Dan" of Scotland Yard.
Percebo o seu raciocínio, caro FGSantos, mas quando falo em «comics» refiro-me especificamente a «super-heróis» e não tanto a clássicos americanos como os que refere. Desses também gosto, embora nada bata a escola da «linha clara» franco-belga,
Sem esquecer Tintim, O Sonho e a Realidade, de Michael Farr, acabado de publicar pela Verbo, e com que me deliciei nos ultimos dias!
Exactamente, comprei a edição francesa no Festival de Cannes o ano passado e tratei logo de a «devorar». Belo livro.
Este de que fala o Jansenista está aqui na lista de compras urgentes. É esse e as "memórias/conversas" do Pratt.
Agora que estão recolhidas mais duas opiniões favoráveis, acho que marcha já amanhã!
Já agora, e para quem gosta do absolutamente genial Edgar P. Jacobs, recomendo «Le Monde D'Edgar P.Jacobs», de Claude Le Gallo (Lombard), que de vez em quando aparece na FNAC do Chiado e pode ser lá encomendado (demora no máximo 4 semanas). E para quem gosta de «comics» americanos clássicos a sério, não perder «The Comics Before 1945», de Brian Walker (Abrams), que comprei na Bertrand do Centro Picoas Plaza aqui perto de minha casa, na R. Tomás Ribeiro - aliás, uma boa livraria cheia de coisas interessantes - e com belos preços de desconto- em matéria de livros militares.
Obrigado pela dica, caro Eurico.
Sempre às ordens, meu caro!
Enviar um comentário
<< Home