sábado, dezembro 17, 2005

Uma cunha para Chávez

Escreve Eurico de Barros no "Diário de Notícias", na sua crónica "O buraco da agulha" (bom livro e excelente filme, como seria de esperar de uma lembrança de Eurico), a propósito das distinções a Hugo Chávez:

O Prémio José Martí deste ano, criado em 1994 no âmbito da UNESCO e no valor de 5 mil dólares (4 100 euros), acaba de ser atribuído ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
José Martí (1853-1895) foi um poeta, intelectual, diplomata, tradutor e combatente pela independência de Cuba, de que é chamado o "paladino". A distinção com o seu nome pretende honrar "um indivíduo ou instituição que tenha contribuído para a unidade ou integração dos países da América Latina e das Caraíbas e para a preservação das suas identidades, tradições culturais e valores históricos". Os galardoados anteriores são um sociólogo mexicano, um pintor equatorenho e uma historiadora dominicana. Até aqui, parece tudo normal.
Só que Chávez é um tropa demagogo, excêntrico e populista, um loony leftist bananeiro, que preside a um dos mais corruptos e repressivos governos da história do seu país, que abriu uma profunda divisão na sociedade venezuelana, que tem sido um factor de grave perturbação política e económica na zona, demonstrado profunda simpatia e solidariedade por Fidel Castro e dito cobras e lagartos do inimigo ianquí. Assim se transformou num dos poster boys da marabunta altermundialista, e não só.
Ou seja, à primeira vista, Hugo Chávez encaixa neste prémio como uma cavilha redonda num buraco quadrado. É como distinguir Vladimir Putin por obras humanistas ou Kim Jong--Il por contribuições para a paz mundial.
Mas some-se o facto de o Prémio José Martí ter nascido por iniciativa do Governo cubano, que o financia e tem sempre um representante no júri, deste júri fazerem parte pessoas como a escritora sul-africana Nadine Gordimer, já condecorada por Fidel Castro, e os três anteriores laureados terem todos obra com mochila ideológica e estética a tombar pesadamente para a esquerda, e tudo faz sentido.
O Prémio José Martí é uma distinção política com maquilhagem cultural e "identitária", e no caso de Hugo Chávez foi uma descarada cunha metida por Cuba a um amigo do peito do director do gulag tropical.
E é a Havana que Chávez o irá receber, em Janeiro, decerto sob o olhar desvelado de altos representantes da inefável UNESCO.

3 Comments:

At 11:31 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Gran artículo del señor De Barros. El director de "La Mañana" de la Cope, Federico Jiménez Losantos llama al dictador venezolano "El Gorila Rojo".....Por cierto, Chavez es muy amigo de Zapatero, que le vende armas........

 
At 5:04 da tarde, Blogger Rodrigo N.P. said...

Eurico de Barros é um caso raro na imprensa portuguesa. Até quando sobreviverá?

 
At 5:35 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Eu, como sempre, vou contra a maré. Admiro muito o trabalho levado a cabo por Chavez, que seja de esquerda não lhe tira qualquer valor: é um patriota que tem devolvido a dignidade ao seu país.

 

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