sábado, janeiro 28, 2006

Brueghel e a Direita

A "Queda de Ícaro" foi pintada por Pieter Brueghel, conhecido pelo Velho para o distinguir do Moço seu filho, cerca de 1558.
Está no Museu Real de Belas Artes em Bruxelas, e tem inspirado um sem número de poetas, desde William Carlos Williams a Gottfried Benn. Uns cinquenta nomes de grandes poetas, calculem, de acordo com as indicações dos especialistas, já se terão inscrito na lista dos mobilizados por esta visão do drama que se desenrola lá nos céus enquanto o mundo segue indiferente, no desabrochar da Primavera.

Como exemplo um poema de William Carlos Williams:
Landscape with the Fall of Icarus

According to Brueghel
when Icarus fell
it was spring

a farmer was ploughing
his field
the whole pageantry

of the year was
awake tingling
with itself

sweating in the sun
that melted
the wings' wax

unsignificantly
off the coast
there was

a splash quite unnoticed
this was
Icarus drowning
***************
Se a minha memória não me confunde (estou a falar de cor) foi da contemplação deste quadro que Pol Vandromme arrancou para, ele também, ir em busca de uma compreensão da Direita, e, inevitavelmente, da distinção entre Direita e Esquerda. Foi a observação daquele camponês sereno e obstinado que lavra a terra fiel aos ritos e aos ritmos do tempo e da vida, sem reparar no que se passa lá no alto, estranho ao despenhar das fantasias e alheio ao desfazer das utopias, seguro apenas do que conhece, que despertou o ensaísta belga para a sua reflexão sobre o homem de Direita e o homem de Esquerda.
Bem sei que estas especulações intelectualóides são por demais maçadoras. Olhai a pintura, então, que os olhos também comem, e esquecei o resto.