Da rua ao cinema
O cinema tem constituído quase desde a sua origem uma arma, e uma arma poderosissima.
Uma verdadeira arma nuclear.
Acontece que desde há muito tempo essa arma tem sido praticamente um monopólio, ou se quiserem um oligopólio.
Em todo o caso, um privilégio "ocidental", no sentido que a esta designação associei uns parágrafos atrás.
Agora reparem nestas notícias: no festival de Berlim o prémio maior foi atribuído a um filme da realizadora Jasmila Zbanic, centrado no drama dos estupros em massa de que foram vítimas as mulheres bósnias durante o cerco à cidade de Sarajevo.
O filme Grbavica é um filme bósnio, com um olhar bósnio sobre a história. Um olhar "dos outros", se preferirem.
Destacado também outro filme: The Road to Guantanamo. Da responsabilidade essencialmente de cidadãos britânicos (paquistaneses e indianos), traz-nos a visão dos muçulmanos da ilha sobre o estado das coisas.
Ao mesmo tempo, faz furor na Turquia e por onde tem sido exibido (por exemplo na Alemanha) o filme "Valley of the Wolves-Irak", de Serdar Akar, a maior produção turca de sempre, que glorifica o heroísmo das forças especiais turcas no Iraque e vilipendia os ogres americanos. Outro olhar "dos outros" sobre a história.
Finalmente, está em destaque, até com nomeação para os óscares, um filme palestiniano: "Paradise Now", de Hany Abu-Assad, sobre dois bombistas-suicidas. Também um olhar "dos outros" sobre a história.
Em inúmeros meios ocidentais nota-se o desconforto; aqui e além afloram apelos e tentativas para impedir a distribuição dos filmes, para evitar que eles cheguem ao grande público; entre outros o embaraço é mais sério, porque entendem e sentem que o "Ocidente" perde sempre, proibindo ou promovendo.
Estão a ver porque dizia eu que o pior pesadelo para o tal "Ocidente" é precisamente a "ocidentalização" dos tais "outros"?
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